Saturday 17 April 2010

Eu tenho padrinhos mágicos!

Desde que me conheço por gente sempre quis ir pro exterior. Primeiro estudei espanhol e cismei de ir pra Salamanca na Espanha. Depois estudei inglês e cismei que ia pro Canadá, até comecei a faculdade de Gastronomia não só pelo talento que tenho pra cozinhar, mas também porque li uma reportagem sobre a vasta oportunidade de trabalho nesta área por todo o Canadá.

Mas, não tenho papai pra me sustentar, trabalho desde os treze anos e tudo o que conquistei até hoje foi com o suor do meu trabalho. Minha mãe me dá a força que preciso quando esmoreço, renova minhas energias quando perco a fé, porque tenho muita fé, mas ainda sim ela é pequena e eu me envergonho disso. Mas, financeiramente, não tenho com quem contar. Sendo assim, esse sonho de ir embora ficou no esquecimento.

Na faculdade eu conheci o Bruno, começamos a namorar, namoramos por quase cinco anos. Eu fui pra Itu pra ficar mais perto dele, morei numa pensão com outras dezessete meninas, vivi momentos bons, outros não tão bons, outros péssimos mesmo, por várias vezes tive que me impor, o que foi bom pro meu amadurecimento, na maioria das vezes senti muita solidão, me questionei inúmeras vezes: “O que estou fazendo da minha vida!”. Afinal, eu morava com muita gente, mas era como se eu estivesse sozinha, eu tinha um namorado que eu via na faculdade durante a semana e raramente nos fins de semana, quando a solidão batia mais forte, porque eu ficava sozinha naquela casa grande e fria e trabalhava na recepcao de um hotelzinho de uma cidadezinha, nada a ver comigo. Porque gosto de A&B e não de recepção e porque até então, o menor hotel que eu já havia trabalhado tinha 196 apartamentos.

Surgiu uma oportunidade na minha área, troquei de emprego, em Cabreuva, fui descaradamente desvalorizada, só não entrei em depressão profunda porque eu sou mais eu e me amo muito, tenho plena convicção da minha competência e amor pelo que faço, e é claro porque tenho minha amada mãe pra me fortalecer.

Voltei pra Campinas, cuidei da Beatriz o meu amor, minha paixão. Tentei me lançar na gastronomia, enquanto eu tinha dinheiro pra investir, deu certo. Mas, sofri um golpe, o que me fortaleceu, hoje desconfio até da minha roupa, pois ela pode rasgar e me desnudar em plena rua.

Voltei pro Hotelzinho da cidadezinha, não só porque eu precisava, mas porque o Hotel precisava, porque era pra aprender um novo oficio, o que enriqueceu o meu currículo e pra ficar perto do Bruno, pois a distância estava esfriando o nosso relacionamento.

Morei no hotel por um ano. Fiz uma entrevista numa multinacional pra vaga de Chefe executivo (cozinhar para o diretor da empresa). Cheguei pra entrevista e só tinha meninas filhinhas de papai que estudaram na Europa. Até me assustei quando cheguei porque pensei que era um desfile de moda e não seleção de emprego. Havia quinze meninas, eu fui a ultima a ser entrevistada, a responsável pela seleção me adorou disse que havia me observado, disse que eu tinha o perfil que o diretor gosta, mas o meu currículo era fraco, eu não tinha uma especialização no exterior.

Voltei triste da vida pra Itu e conversei com a Vera gerente do hotel, que a essas alturas já havia se tornado uma boa amiga.
Ela então ela me falou sobre o seu irmão que morava na Irlanda e que por sua vez estava a caminho do Brasil e trabalhava na escola de inglês. Eu me interessei porque logo enxerguei a oportunidade de ir pra Europa aprimorar o inglês, trabalhar, juntar dinheiro e fazer a tão cobrada especialização no exterior.

A Vera me passou os valores do curso, eu não tinha a grana, afinal eu me banco e faço questão de ajudar minha mãe no que posso, então é bem difícil conseguir juntar alguma coisa com esse salário de fome que se paga aqui no Brasil. Pedi emprestado pra todo mundo que conheço e que deduzi que tivesse dinheiro, mas as pessoas não emprestam nem dez reais, quem dirá dez mil reais!
Assim que o José chegou, os convidei pra um jantar na minha casa em Campinas.

Começamos com o pé esquerdo porque sou prática e objetiva, então fiz um mapa no qual de Itu até minha casa em Campinas constavam apenas quatro ruas, mas, veja bem... é um retão, não tem erro! Mas, eles se perderam e chegaram na minha casa pra lá das onze da noite.

Eu fiz bobó de camarão e de sobremesa Creme Bruleé de tapioca, é muito simples de preparar e é divino. Deixei a tapioca de molho no leite de um dia pro outro, adicionei leite condensado, leite de coco, creme de leite e gemas de ovo, levei ao fogo até dar uma leve engrossada, coloquei nos ramequins polvilhei o açúcar e o caramelei com o maçarico.

O José lambeu os beiços mencionou a sua idéia de abrir um buffet de comida brasileira em Dublin e disse que financiaria minha viagem pra eu pagar aos poucos e quem sabe o ajudar com essa idéia. Eu topei na hora é claro. Voltei com eles pra Itu e pra variar nos perdemos e por incrível que pareça uma viagem que seria de 45 minutos levou 5 horas, isso mesmo, pois demos voltas e mais voltas em circulo, até que o José resolveu ir até São Paulo e de lá ir pra Itu.

Creme bruleé de tapioca

Continua...

É claro que logo vieram as especulações: “Olha, cuidado e se ele for um aliciador?”, “Veja bem e se ele te cobrar o dobro?”, “Cuidado ele pode te cobrar com sexo!”.
Eu ia em novembro, mas não deu, porque ele não pôde, ai que eu tive que escutar : “Ele ta te iludindo!”, “Pára de ser alienada, ponha os pés no chão!”.
Eu ia em janeiro, mas estava absurdamente frio lá e ele, ou melhor, nós achamos melhor adiar mais um pouco, ai o massacre foi gritante, o Bruno então, se disse decepcionadíssimo comigo: “Não quero fazer minha vida com uma mulher que não tem os pés no chão, que vive de ilusão!”.Todos me olhavam com cara de dó “A pobrezinha iludida!” Pensavam.
Eu ia em março, sozinha. Mas, o José resolveu vir pro Brasil em Abril e achou melhor eu ir com ele. Só faltou eu ser crucificada, porque o martírio foi grande, confesso que minha fé foi testada no limite eu quase a deixei escapar, e mais uma vez contei com minha amada mãe pra me fortalecer.

Sexta dia 09, fui num encontro em São Paulo da galerinha da escola e por uma benção divina eu ganhei o prêmio de quinhentos euros de desconto no curso, e quase que não participei do sorteio, fui a ultima a colocar o nome, nem sabia do prêmio.
Sábado me despedi da galera de Itu e na segunda o José me informou que tinha adiado a volta dele e que, portanto eu iria sozinha.
Na quarta minha irmã Dani voltou de viagem e minha mãe fez Vaca atolada pro marido dela que estava com desejo. Ela cozinhou a mandioca em água temperada com sal e pimenta do reino, depois ela fritou as costelas de vaca com alho e cebola, adicionou a água da mandioca e colocou caldo de costela, tomate, pimentão, pimenta dedo de moça, louro, deixou cozinhar por aproximadamente 30 minutos e finalizou com salsa picada, serviu com arroz e farofa de ovo.
Na quinta fomos em Itu pegar os documentos e a Dani conversou com o José, espero que ele tenha sanado todas as suas dúvidas e hoje fiquei sabendo que um vulcão resolveu dar o ar de sua graça e entrar em erupção interrompendo todo o tráfego aéreo Europeu... Que beleza! Deus queira que até domingo tudo esteja resolvido e que eu faça a minha tão esperada viagem, amém!

Fui testada por Deus, pelo Universo, pelas pessoas... estou no meu limite. Estou indo com um empréstimo daqueles pra pagar, com mil euros no bolso que não são meus e terei que devolver assim que chegar em Dublin, ou seja, estou indo dura. Mas, com a oferta de emprego a cem euros por semana e um mês de acomodação pago, ufa! Não ta tão ruim assim a minha situação. Conversei com pessoas que estão indo ou foram em condições bem piores que a minha.

Obrigada Deus por colocar a Vera e o José na minha vida, porque eles estão fazendo por mim o que parente nenhum fez, eles são os padrinhos que a vida me deu. Faço questão de retribuir a confiança que eles estão depositando em mim! Que Deus os abençoe e retribua em dobro todas as bênçãos que eles derramaram em minha vida! Agora cabe a mim fazer valer!


Vaca atolada

Tuesday 13 April 2010

"Arte" em família

Não faz muito tempo minha irmã Deborah foi ao salão e a cabeleireira quis cobrar cento e vinte reais pra fazer uma escova progressiva em seus curtos cabelos. Minha irmã foi na loja onde os profissionais da área compram os materiais que usam e conversou com a vendedora que lhe passou os produtos e o passo a passo da aplicação de cada um, minha irmã pagou quinze reais e foi pra casa, pra eu a “cabeleireira” oficial da família fazer a aplicação.

Nós nos lembramos de quando eu pintava minhas unhas de preto e fazia bolinhas vermelhas, imitando joaninhas, lembramos também do dia que eu e a Dani estávamos de férias no Rio de Janeiro e ela tingiu o meu cabelo de loiro, fomos ao Shopping, eu vi o reflexo de uma menina e eu disse pra Dani “aquela menina se parece comigo, mas ficou parecendo uma Jacaroua com aquele cabelo loiro”. Minha irmã carinhosamente respondeu “é você sua anta!”. Então, enxerguei o espelho. Comprei na mesma hora uma tinta castanho natural e fomos pra casa, ela tingiu meus cabelos e eles ficaram verdes, depois ela resolveu descolorir e eu fiquei parecendo um mico leão dourado, então ela teve a brilhante idéia... “Já sei! Vamos ao salão”, disse ela. Eu virei bicho, ordenei que ela resolvesse o problema, eu disse “Não, pelo amor de Deus não faça isso comigo, não sairei na rua assim, resolve isso você mesma e agora... Por favor!”. Ela ligou num salão e a cabeleireira disse pra ela passar um tom avermelhado... Até que fiquei bonitinha meio ruiva!

Nessas mesmas férias eu fui à praia, vesti meu biquininho, calcei o meu tamanquinho e saí feliz da vida, eu já estava no calçadão quando torci meu pé, detalhe básico: eu caí no exato momento em que eu passava por um grupinho de garotos tipicamente cariocas com dragões tatuados nos braços e calção, corpo aberto no espaço, sabe? Então eu me levantei rapidamente e quando dei o primeiro passo, cai novamente, um dos meninos pegou me no colo, atravessou a rua e me levou a clinica ortopédica que por milagre ou coincidência, estava ali bem em frente, do outro lado da rua. O médico ligou pra minha tia, assim que ela entrou no consultório pegou meus tamancos, lindos e altos e os arremessou no lixo, quando o médico disse que o gesso ficaria em trezentos reias ela ficou muito brava, mandou ele a merda e me levou pro hospital público, detalhe: eu estava só de biquíni e descalça, depois de quatro horas de espera em meio ao caos, pessoas baleadas, com fraturas expostas e tudo de mais traumatizante que possa existir, meu pé foi engessado e fomos pra casa.
Graças a Deus nos oito dias seguintes ao incidente choveu no Rio de Janeiro, mas assim que o Sol raiou, eu não tive dúvida, tirei o gesso e fui a praia. Minha tia faltou dar cria quando chegou em casa e eu estava sem o gesso, o que livrou a minha barra foi que preparei o frango ensopado que ela me ensinara nas férias anteriores que passamos juntas na fazenda.

Comprei o frango inteiro e pedi pra cortar os pedaços, lavei em água corrente e temperei com suco de laranja, creme de cebola e sache com bastante alecrim, deixei marinando por meia hora, dourei o alho e a cebola, juntei os pedaços de frango, deixei dourar também, polvilhei curry e adicionei água fervente e dois tabletes de caldo de galinha e deixei cozinhar até a carne ficar macia e o reduzir o caldo. Lavei o quiabo, um por vez e sequei bem pra que eles não ficassem babentos cortei-os em pedaços de graúdos e os refoguei junto com alho e cebola, acrescentei um tomate concasse cortado em cubos, suco de um limão e salsa picada, fiz a polenta e o arroz. Minha tia ficou orgulhosa e comeu bastante. E eu me safei da bronca!

Frango ensopado com quiabo e polenta

Sunday 4 April 2010

Ahhhh Barataaa!

Esse assunto não combina muito com comida, eu sei. Mas, não posso deixar de falar sobre a repulsa que tenho com relação a esse bicho escroto, a Barata.
Nesse glorioso sábado de aleluia em que Judas é malhado e que no Rio de Janeiro os garotos se vestem com roupas de palhaço, mascaras de monstros e saem pelas ruas batendo contra o chão uma bola que é amarrada por uma corda e que faz um barulho ensurdecedor, são os chamados bate-bolas, os quais me matavam de medo quando criança...

Voltando ao assunto antes que eu perca o fio da meada... Nesse sábado de aleluia, após uma sexta-feira santa na qual fui dirigindo o carro do meu adorado cunhadinho Robson até a casa da minha irmã a Deborah, onde preparei um delicioso salmão temperado com vinho branco, sal, pimenta do reino, limão e alho, assado com legumes cortados grosseiramente em cubos e pré-cozidos em água temperada com sal e bouquet garni acompanhado de arroz com alcaparras e farofa de banana...

Ops! Perdi o fio da meada...
Lembrei! No sábado de aleluia eu foi colocar a ração da minha linda cachorrinha e avistei uma barata em seu prato, discretamente peguei o veneno spray e borrifei nela, ela ficou muito tonta, borrifei mais veneno e ela se fez de morta, então peguei uma sacola, a idéia era colocá-la em cima do prato, virá-lo de cabeça para baixo para a barata cair dentro da sacola, depois eu daria um nó e a jogaria no lixo. Ensaiei por quase meia hora a estratégia que eu usaria e quando tentei colocar em prática a danada se mexeu, eu saí correndo e gritando. Minha amada irmã Dani veio ver o que estava acontecendo e ficou indignada comigo, como eu podia ter tanto medo de barata? Rapidinho ela a colocou na sacola e com a mão minha irmã a esmurrou esmigalhando a coitada.

Na pensão em que morei eu tinha um esquema, no meu quarto eu colocava um pano fechando a fresta da porta da varanda e outro fechando a fresta da porta de entrada do quarto, borrifava veneno em tudo, e ainda sim algumas conseguiam sobreviver e ai não tinha jeito eu saia gritando e a dona da Pensão vinha matar. Numa noite, eu já estava dormindo, senti algo fazer cócegas no meu braço, no dia seguinte a Érica, que dividia o quarto comigo disse: “Graças a Deus você não acordou, pois tinha uma barata voadora no quarto, e ela andou no seu braço”. Eu fui à mesma hora pro banheiro e esfreguei tanto o braço que quase o arranquei fora.
Uma outra vez eu cheguei de madrugada e estava faminta, quando entrei na cozinha contei quinze baratas, minha fome passou na mesma hora.

Eu gosto muito de viajar e sempre que posso o faço, mesmo que sozinha. Numa dessas viagens, me hospedei num hotel modesto e quando fui tomar banho tinha uma barata no banheiro ela já estava morta, em cima do tapete, então pensei: “Pego nas laterais do tapete, jogo o defunto na privada e dou descarga. Muito simples!”. Porém a filha da mãe grudou no tapete, eu me assustei e saí correndo, a camareira entrou pegou um pedaço de papel higiênico, a pegou com o auxílio do papel e a jogou no lixo.

No hotel em que morei ano passado aconteceu algo parecido, mas três vezes pior, havia uma barata no banheiro, ela era enorme, do tamanho da minha mão... Ta bom vai, do tamanho da palma da minha mão... contando com as antenas... Mas, isso não vem ao caso, o que importa é que ela era muito grande, daquelas que tem a bunda arrebitada e estava vivinha da silva. Eu pensei: “Vou pegar o rodo e vou acertá-la com tudo. Muito simples!”. Ensaiei minha estratégia por uns dez minutos, pois nada podia dar errado. Quando finalmente eu resolvi acertá-la ela saiu correndo, conseqüentemente eu também. A camareira entrou, a esmigalhou com o rodo, a pegou com o auxilio do papel higiênico e a jogou no lixo.
Um dia, quem sabe, eu me encorajo a fazer o trabalho sujo. Deus é tão bom comigo que sempre tem alguém pra fazer esse trabalho por mim!


Salmão assado com legumes