Saturday 30 January 2010

Itu

Murinha e eu fomos para o Rio de Janeiro, estávamos lá de boa, quando o amigo dela a ligou. O fofo se lembrou que ela tinha uma amiga, no caso eu, que queria fazer faculdade de Gastronomia, ele ligou para dizer que a Faculdade dele tinha aberto o curso e estava trabalhando com um bom valor. Eu nem calculei nada, vi que o valor cabia no meu bolso, voltamos pra Campinas, fomos pra Salto, fiz a prova e entrei na Faculdade.
O primeiro ano foi bem complicado porque eu trabalhava, ficava pelo hotel até dar a hora do ônibus que me levava pra faculdade em Itu, de sexta pra sábado eu dormia na casa da Karol, pois nos sábados de manhã tinha aula, de lá eu voltava pra Campinas e ia trabalhar, eu tive que implorar pro meu chefe me dar os sábados de folga, e foi preciso eu derrubar uma bandeja cheia de pratos, devido ao meu cansaço, pra ele me dar às folgas.
Aprontei todas, no primeiro ano, saí, bebi, beijei muito. Eu sempre fui meio despirocada, e tenho uma tara, adoro Bumbum masculino, ainda juntei-me a Karol, é claro que não prestou! Então, quando aglomerava a galera na portaria da faculdade... Passávamos a mão nas bundas masculinas. Numa dessas, eu passei a mão na bunda do Bruno e ele gamou na mãozinha, e em todo o resto da gatinha aqui!
Só que ele era muito chato, vinha sempre com o mesmo papo: “Hoje é meu aniversário, me dá um abraço!”. Eu caí na primeira vez, mas depois achei um saco.

Um dia, eu tinha tomado umas, pois eu tinha sofrido uma desilusão com o Elias Muniz, resolvi dar uma chance pro rapaz, falei pra Karol chamá-lo e quando ele veio, chegou falando sem parar, então eu mandei ele calar a boca e dei-lhe um beijo, só que o meu maxilar começou a estalar, fazia um barulho tipo: “Poc poc”. Então ele perguntou: “O que é isso, pipoca?”. Eu respondi: “Sei lá, meu maxilar soltou!”. Combinamos de ficar no dia seguinte, mas eu apresentei meu inter e saí atrasada pra pegar o ônibus. No terceiro dia, estávamos sentados na praça, eu estava preste a dar-lhe um fora, quando ele se declarou pra mim, disse que me amava e que queria namorar comigo. Então, lembrei das sábias palavras da mãe da Murinha e resolvi aceitar o pedido.
Finalmente consegui sair do hotel e mudei pra Itu, fui morar numa pensão com outras dezessete meninas!

Logo na minha primeira semana de pensão, preparei meu almoço assei um peito de frango que temperei com suco de uma laranja, pimenta do reino e creme de cebola, dei uma pré cozida nas batatas e juntei-as ao frango para dourá-las, fiz um arroz bem soltinho e salada de alface com tomate. Abri a geladeira pra pegar um limão e fazer uma limonada e não achei minha sacola cheia de limão! Perguntei para as meninas que estavam babando de vontade de comer meu frango, se elas sabiam da minha sacola de limões identificada com o meu nome, mas elas disseram que não sabiam. A Dri, dona da pensão chegou e eu falei: “Dri, meus limões resolveramn dar uma volta sem a minha autorização e agora eu quero um suco, pra acompanhar a minha refeição, como faremos?”. Ela respondeu: “As meninas precisavam de limão pra caipirinha e eu não vi problema delas pegarem o seu!”. Eu respondi: “não teria problema se tivessem me pedido e se não tivessem usado todos os limões”. Uma das meninas se levantou e colocou três reais no meu bolso, disse que era pra eu comprar mais limões, eu respondi: “Vocês que deveriam comprar, afinal usaram sem a minha permissão, mas com esse dinheiro aqui compro bastante limão, comi minha deliciosa comida, tomei o suco da Dri e fui na doceria, comprei um pacote de pirulito, cheguei e joguei os pirulitos na mesa e disse: “Trouxe uns docinhos pra vocês, porque vocês tomaram o meu limão e ficaram azedas, comam doce pra ver se adoçam um pouquinho!”. E fui pro meu quarto.
Frango com batatas

Friday 29 January 2010

Hóspedes inesquecíveis

No flat The Special tinha um morador que sempre puxava assunto comigo, o Ricardo Motta. Ele era produtor musical e volta e meia vinha com uma mala cheia de CD ‘s que ainda seriam lançados no mercado. Ele fazia questão que eu encolhesse os meus, depois ele liberava os outros recepcionistas pra fazerem suas escolhas. Um dia ele me deu uma blusa preta com lantejoulas, linda via-se que era roupa cara, então meu chefe abriu-me os olhos, ele me alertou ao fato do sr. Ricardo estar me cortejando. Meu estômago embrulhou na hora, porque ele era um homem de uns quarenta, bem cuidado, mas... Velho né! E eu gosto de garotões. Passei a fugir dele, até que ele se tocou e me deu paz!

A Dona Dorinha era uma senhorinha muito chata, ninguém gostava dela, só eu a atendia. Ela tinha medo do elevador, então eu a acompanhava. O motivo pelo qual eu a tratava tão bem? Nenhum! Eu só sou uma alma muito boa e caridosa!.... E ela sabia retribuir bem a minha dedicação. A cada viagem de elevador ela me dava uma gorjeta de cinqüenta reais!

No Noumi o Mr. Angel, Porto Riqueño, moreno, alto, lindo, maravilhoso! Nós conversávamos por horas a fio no período que fiquei no lugar do bar man cobrindo suas férias. Pena que ele não teve segundas intenções!

No Mercure o Mr. Leon jantava todas as noites o mesmo prato: Salmão ao molho Belle Meunière servido com salada caesar, o peixe era grelhado no azeite, Numa panela, dourava-se um pouco de manteiga, os champinhons, os camarões, as alcaparras, a salsa picada, o sal, a pimenta-do-reino, gotas de molho inglês, suco de limão. Acrescentava-se o vinho branco e deixava apurar por alguns minutos. Para a salada Caesar: croutons feitos com cubos de pão brevemente assados. As folhas de alface romana eram cortadas grosseiramente e colocadas numa travessa. O molho era feito com anchovas amassadas e misturadas com alho até ficar uma pasta. Depois adicionava-se a pimenta, o suco de limão, o molho inglês, a mostarda e a gema de ovo. Por último, o azeite. O sr Leon em uma de nossas conversas ofereceu-me sua casa, quando soube que eu tinha interesse de ir pro Canadá, deixou endereço e telefones pra contato, uma graça!

O sr. Edson me contava a vida dele inteira, uma vez obrigou-me a sentar ao seu lado, pois ele queria que eu visse as quinhentas fotos do filho dele, eu olhava pro maitre, ele fazia cara feia, mas não consegui evitar!

O sr Kae foi o mais hilário, ele era um alemão muito parecido com o Leonardo Di Caprio, que ficou no hotel por seis meses. No começo ele não falava muito bem o português, então ele apontou para o guardanapo e perguntou: “Como chama?”. Eu respondi: “Guardanapo!”. Ele disse: “Complicado”. Eu respondi rapidamente: “Não complicado é complicado, guardanapo é fácil!”. Ele fez cara de ué e eu caí na risada, então ele resolveu encarnar em mim, não podia me ver que tirava uma onda com a minha cara, ele se encantou comigo e me chamou pra sair umas três vezes, mas eu sempre fui muito profissional, até tive vontade de sair com ele, mas não o fiz.

No dia anterior de sua partida ele disse: “então minha querida, já arrumou as malas?”. Eu indaguei: “Por que eu as arrumaria?”. Ele disse: Para ir comigo para Alemanha”. Eu perguntei: “Fazer o que lá?”. Ele respondeu: “Lavar, passar, cozinhar e muito sexo!”. Eu disse: “Pois aqui eu não lavo, não passo, não cozinho e também, não faço sexo!”. Ele foi embora e ficou na memória!

Caesar salad e Salmão ao molho Belle Meunière

Lembranças repentinas

Enquanto eu postava sobre o Mercure, minha mãe fazia um bolo de fubá ela bateu no liquidificador os ovos, o óleo, o açúcar, a farinha e o fermento, foi adicionando aos poucos o leite quente e por último o fubá e sem bater, misturou a erva doce, untou e enfarinhou a forma de buraco no meio, colocou a massa e assou em forno pré-aquecido. Então, eu lembrei da minha saudosa vó Maria. Eu não tive muito tempo de convivência com ela, mas quando mudamos de Americana pra São Paulo, passei uma semana com ela, nossa como eu comi, ela cozinhava muito bem e fazia bolo de fubá pro lanche.

Minha avó fez feijoada pra comemorar seu aniversário, eu pra variar comi nababescamente. Eu fiquei a observando, ela estava sentada na cadeira com a perna encolhida e eu pensei: “Muitas jovens não fazem isso!”. Minha avó andava de patins, namorava rapazes bem mais novos que ela, ia ao forró, era pra frente. Deu-me vontade de abraçá-la e dizer Te amo. Mas, não o fiz.
Um tempo depois ela faleceu dormindo, em casa e no dia de sua morte havia na mesa um bolo de Fubá que ela fizera no dia anterior.

Lembrei-me da minha outra avó, a vó Gracinha, mãe do meu pai. Meus pais se separaram há um bom tempo e até hoje minha vó freqüenta nossa casa. Ano passado ela veio e arrumou um namorado, os dois ficavam sentados na varanda, ela com as pernas apoiadas nas pernas dele e os dois faziam palavra cruzada o dia todo. Pela manhã ela se arrumava toda e vinha perguntar: “Estou bonita?”. E ia pra padaria se encontrar com o namorado. Ai ai ai véia assanhada!

Enganchei a memória na tia Cleusa, minha amada tia! Uma figura pensa numa mulher chique! lembrei-me dela porque a receita do bolo de cenoura é dela, e recordei o dia que voltávamos da praia e ela viu um rapaz com um dragão tatuado no braço na varando de um prédio, e começou a cantar: “Menino do Rio, calor que provoca arrepio. Dragão tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço...” A namorada dele logo apareceu e minha tia disse: “Eu só tava cantando!”.

Bolo de Fubá

Thursday 28 January 2010

Mercure

Fiquei feliz da vida por ser chamada para a dinâmica do Mecure Campinas. Fui confiante, participei das dinâmicas com minha liderança nata, mas na hora do teste de matemática... Eu tive um bloqueio danado, não lembrava quanto era dois mais dois, entreguei o teste em branco. Cheguei em casa aos prantos. Três semanas depois o gerente de A&B me ligou me chamando para uma entrevista, chegando lá eu perguntei: “Mas, porque vocês me chamaram? Eu entreguei o teste em branco!”. Ele respondeu: “Queremos pessoas apaixonadas por hotelaria e não matemáticos!”. Eu disse: “Então, acharam a pessoa certa!”.

Logo no primeiro dia fiz amizade com a Muriel, somos muito amigas até hoje. Lembro que lavávamos as escadas do hotel, pois tivemos que fazer faxina nele, antes que começasse a operar, e começamos a cantar Italianes quando terminamos a cantoria percebemos a presença do gerente geral e do gerente de A&B, os dois prestavam a maior atenção, foi hilário!

O maitre era fera, o melhor maitre que já conheci, aprendi muito com ele, nos tornamos bons amigos. O Benê e o Ira eram cozinheiros e nós aprontávamos bastante lá, eles me deixavam entrar na cozinha e cozinhar, eu fazia brigadeiro e chamava os outros funcionários, um por vez ia na cozinha pegar uma colherada do doce. Uma vez eu fiz um bolo de cenoura, bati no liquidificador as cenouras, o óleo e os ovos. Numa vasilha juntei as farinhas (açúcar, farinha de trigo e fermento), juntei o creme de cenoura às farinhas e misturei bem, quando a massa estava homogênea coloquei na forma untada e enfarinhada e levei ao forno pré-aquecido. Juntei manteiga, açúcar e Nescau e levei ao fogo, quando o açúcar estava por completo derretido, cobri o bolo com a calda de chocolate. Nesse exato momento o gerente geral entrou na cozinha, ele perguntou: “Jujubinha, o que você está fazendo ai?”. Eu respondi: “JP querido, vá pra sua sala que já já te levo um pedaço do melhor bolo de cenoura que já comeu na vida!”. Ele disse: “Se não for o melhor! Te darei uma advertência!”. Acho que foi o melhor, porque não fui advertida!

Teve um concurso de cozinheiro amador e eu participei, é claro só que me informaram que era pra criarmos receitas e eu as criei, na hora H todos vieram com receitas já existentes, se eu soubesse teria feito um sauté de poulet aux crevettes e de sobremesa oeufs à la neige. Mas, eu criei um molho de iogurte para banhar mentirinhas de frango frito e de sobremesa doce de tomate para comer com sorvete de creme. Fiquei em terceiro lugar com as mentirinhas, mas meu doce de tomate foi um fracasso o que me fez cair para o penúltimo lugar no placar geral.

Eu durmia mais no hotel do que em casa, porque o trabalho terminava as duas, três da manhã, então eu ficava por lá mesmo. Uma vez eu fiquei feliz da vida porque o trabalho terminou a meia noite e eu iria dormir um pouco mais. Mas, um hospede ligou perguntando se no hotel havia alguma cachoeira, eu respondi que não e subi pra ver. O andar a cima do dele estava inundado, isso por conta de uma torneira que fora esquecida ligada, e como se tratava de uma construção nova, não havia ralos, a recepção chamou os gerentes e nós começamos a puxar a água com rodos até a escada de serviço. Eu fui dormir as cinco da manhã!

A equipe do hotel era bem unida, principalmente fora dele. Íamos ao teatro, fomos no show da Ivete... Teve um carnaval que fomos para casa de uma das recepcionistas e bebemos muito, a noite toda, depois nos jogamos na piscina de roupa e tudo. No dia seguinte fui deixada em casa por um motorista vestido só com cueca e eu estava só com uma camisola, minha mãe ficou horrorizada com a cena!
Eu ia muito na casa dos Fás. Eles se conheceram no hotel, procuraram juntos apartamentos para alugar, a Fá alugou um e o Fá alugou outro, no mesmo prédio, mas o amor aconteceu e os dois acabaram morando em um só e eu ia lá tomar cerveja e falar mal dos outros. Depois de quatro anos eles se casaram e eu fui madrinha!

Bolo de Cenoura

Continuação

Os Fás tinham um cachorrinho poodle toy chamado Snoop. O Snoop vinha em casa, passar as férias com a Bia minha cachorra stray god. Ele dormia nos meus pés, minha vó Gracinha estava aqui e dava comida pro Snoop, não adiantava pedir pra não dar, porque ela se fazia de surda e dava pão, bolo, chocolate, carne, frango, tudo! O Snoop engordou bastante e quando voltou pra casa deu trabalho pra Fá, pois ele não queria saber de ração. Lembro-me do dia que a Fá me ligou dizendo que o Snoop estava agora com o Frederico no reino de Deus, eu o amava como se fosse meu, então eu sofri muito com a notícia.

Entraram dois mensageiros gatinhos no hotel, eu cresci o olho em um deles, mas o achei esquisito, então achei melhor investir no outro, só que o outro já estava interessado na Gi. Eu fiquei com minha vaidade ferida, portanto peguei birra da moça.

Eu mudei de horário porque comecei a cursar a faculdade de Gastronomia, e a Gi se pelou de medo de mim, pois íamos trabalhar juntas, no elevador ela disse: “Eu tenho medo de você!”. Eu perguntei: “Por que? Eu não mordo, não!”. Ela respondeu: “Por conta da sua influencia, você é a queridinha do Maitre!”. Eu respondi: “Faça o seu trabalho, eu farei o meu, estamos aqui pra isso e nada mais!”. Na virada do ano ficamos no mesmo quarto. Ela trabalhou até as dez da noite e eu até as duas da manhã, no dia seguinte ela entrou as seis da manhã e eu havia preparado uma bandeja de café da manhã pra ela e deixei na mesa perto da cama dela com um bilhetinho: “Que nasça nesta data uma linda amizade!”. Eu acordei com o choro dela, a partir de então, ficamos amigas!

O mensageiro esquisito era bem esquisito mesmo, uma vez ele me deu carona pra casa, ao chegar, ele desligou o som e ficou quieto. Então eu perguntei: “Posso te dar um beijo?”. Ele respondeu: “Sim!”. Depois do beijo ele fez uma cara de susto e eu perguntei: “O que foi?”. Ele disse: “Nada”. Então eu saí do carro, ele pediu um outro beijo, eu dei e entrei em casa. No dia seguinte ele me deu carona de novo e quando eu fui beijá-lo ele disse: “Não vai passar de beijo!”. Eu o beijei na bochecha e sai do carro, afinal ele tinha me dado um baita fora.
No dia seguinte ele me ignorou e nos outros três dias também, até que liguei no ramal dele (Nessa altura ele já era almoxarife) e disse: “Eu não te entendo, você me dá o fora e você que me ignora, não era pra ser o contrário?”. Ele respondeu: “Você que entendeu tudo errado!”. Ai que boiei, mesmo!

Um tempo depois eu estava no refeitório, como sempre, esperando dar a hora do ônibus da Faculdade, ele veio comendo um pudim feito com leite condensado, leite e ovos, tudo batido no liquidificador, despejado numa forma de buraco no meio caramelada com açúcar, e assado em banho-maria. Então, ele me ofereceu um pedaço eu aceitei e ele me deu um beijo, só que quando eu me empolguei no beijo, ele parou. Eu disse: “Sem graça!”.
No dia seguinte eu fui pegar a requisição, ele fechou a porta e me deu um beijão daqueles. Eu pensei que essa história fosse sair do armário, mas não passou disso.

Como de costume, fui na casa da minha amiga Muriel. Nós cozinhávamos comidinhas vegetarianas. Uma vez fizemos granola com mel, sementes de linhaça, germen de trigo, damasco seco, uva passa, amêndoas picadas e açúcar mascavo, um ingrediente por vez era colocado numa frigideira untada com mel e depois o insumo era polvilhado com açúcar mascavo e grelhado, depois depositado num recipiente para esfriar e manter a crocância, nós comíamos a granola ainda morna e assistíamos filmes ou DVD's de música. A mãe dela me deu um conselho: “Dê chance pra quem gosta de você, porque nós mulheres aprendemos a amar. Homens não, ou eles amam ou não amam”. O Elias Muniz não me amava, então eu dei chance pra pessoa certa.

Hoje somos bons amigos, sei que não passará disso e nem me iludo mais com qualquer outro tipo de situação, até porque aprendi a amar quem me ama e estou muito feliz!
Pudim de leite

Granola




Wednesday 27 January 2010

Campinas

Mudei pra Campinas e demorei a me adaptar. Na verdade, acho que nunca me adaptei. Consegui um emprego num Hotel no Cambuí, trabalhava de garçonete. Não demorou muito a Maitre começou a mostrar sua verdadeira face, ela é árabe, porca, incompetente e extremamente ignorante. Uma vez um garçom fez o prato dele, pois já passava das três da tarde e o coitado ainda não tinha almoçado, porque ela não o havia liberado. Então, ela foi à direção do rapaz como um foguete, tomou lhe o prato das mãos e o jogou no lixo, e disse: “Eu não te liberei!”. Ele foi com tudo pra socá-la, mas o chefe de cozinha o impediu.

Um dia teve três eventos no hotel ao mesmo tempo, tinham exatamente vinte garçons e ela não sabia o que fazer. Eu entrei pra trabalhar ao meio dia e nada estava feito, mesas, buffets tudo por montar, os hospedes esperando, uma verdadeira confusão. Depois, do caos controlado ela dizia: “Eu não di conta, eu não di conta!”.

De repente ela resolveu implicar comigo, todos os dias ela pegava no meu pé. Emagreci muito na época, cheguei a pesar 37kg. O chefe de cozinha ficava com dó de mim, ele preparava mousse de chocolate com o auxílio de uma peneira ele passava as gemas para retirar a película. Numa vasilha batia bem as gemas até dobrarem de volume, juntava o açúcar e continuava batendo. Derretia o chocolate em banho-maria e acrescentava a gemada. Juntava o creme de leite e por fim as claras batidas em neve, mexendo bem. Depois levava a geladeira até o dia seguinte. Ele separava a taça mais cheia pra mim. Também, fazia lanches e tudo mais que eu tivesse vontade.
Mas, não dei o braço a torcer, ela falava eu retrucava, ela me mandava descer pra diretoria, que me mandava de volta pro salão, e assim ia, por várias vezes, por vários dias. Uma vez ela chamou minha atenção na frente de um cliente, eu o servia café, quando ela falou: “Vá lavar louça que é o que você sabe fazer!”. O cliente ficou indignado, pois eu o havia atendido com perfeição, ele tentou argumentar, mas eu gesticulei que não precisava e fui lavar louça. Enquanto eu lavava, eu cantava: “Senhor põe seus anjos aqui, senhor põe seus anjos aqui. Não deixes que a inimiga escarneça e zombe de mim...” Ela me olhava com ódio e eu fingia não ver e cantava sorrindo.

Quando encerrou o expediente, eu entrei no salão e apontando o dedo na cara dela, eu disse: “Você nunca mais tente me humilhar, porque você está no meu País, e você me deve respeito, se não eu te processo e você será deportada, mas antes disso eu vou a Policia Federal só pra escarrar na sua cara. Só não te dou um tabefe agora porque você está grávida, e te digo mais, segura com unhas e dentes esse seu empreguinho de merda, que nós sabemos muito bem que você só o tem por ser amante do dono do hotel, porque com essa incompetência toda você não sobrevive um dia lá fora”.
Ela não entendia muito bem português e não deve ter entendido metade do que falei, mas eu disse tudo o que estava engasgado há oito meses. Ela só respondeu: “No vo te dar o gostinho de te dimiti. No vo!”. Eu disse: “Ótimo, porque eu adoro trabalhar aqui, a única pessoa que estraga tudo aqui pra mim e pra todos é você!”. E fui embora. Foi ótima essa conversa que tivemos porque não tive mais que aturá-la, eu chegava, ela saia e vice-versa.

Eu comentei com o chefe de fila que não entendia o porque dela ter mudado tanto assim comigo, pois logo no começo ela me tratava bem. Ele disse: “Não me diga que você não sabe? O hotel inteiro sabe!”. Eu respondi: “Não sei, fala!”. Ele falou: “O dono do hotel, espalha aos quatro ventos que um dia ainda vai te pegar!”. E como ela era caso dele e todos ali sabiam disso, tava explicado. A confirmação disso, eu tive no dia em que ele ligou na minha casa dizendo: “Juliána, se arrúma vámo sai com Habib. Eu te compro um tênnis!”. Eu fiquei rosa chiclete, e respondi: “não mesmo!”. Uma semana depois eu fui demitida.

Mousse de chocolate

Tuesday 26 January 2010

Mão de Deus!

Eu trabalhava das seis e meia da manhã ao meio dia e meio, depois ficava enrolando na cidade até as três da tarde para então ir pro inglês. Quando não tinha inglês eu enrolava até as sete da noite hora do curso de hotelaria, nesse caso eu ia até a biblioteca da faculdade, pegava um livro e tentava ler, mas o sono não deixava então eu dormia sobre ele.

No verão eu não agüentava o calor e descobri dentro da Igreja de Nossa Senhora Aparecida um cantinho bem fresco e aconchegante onde eu podia tirar um cochilo.
Eu saía do The Special ia na padaria Juriti comer o tradicional lanche de lombo que eles temperavam com vinha d’alho, depois assavam com bastante cebola cortada em rodelas, cortavam em fatias finas e colocavam no meio do pão francês feito na hora. De lá eu ia direto pra Igreja. Nem sempre dava pra cochilar porque as beatas iam quase todos os dias fazer orações e cantorias, quando eu me dei conta estava orando e cantando com elas, por várias vezes me peguei conversando com Nossa Senhora.

Uma vez eu saí atrasada do Flat, pois eu tinha consulta marcada com a dentista. Eram seis quadras até a Avenida Ibirapuera onde ficava o ponto do ônibus, eu falei pra Deus: “Deus faça com que eu chegue no ponto e o ônibus esteja lá!”. Foi eu chegar que o ônibus veio, então me lembrei que havia esquecido meus passes na minha mesa, nossa voltei pro Flat falando um monte pra Deus, peguei os passes e voltei pro ponto e o ônibus estava lá, entrei no ônibus e disse: “Pelo menos isso, né Deus!”. Quando o ônibus entrou na 23 de maio, tinha um transito daqueles, isso porque o ônibus que eu havia perdido estava em chamas. Então, eu agradeci a Deus e pedi perdão pela minha revolta!

Já em Campinas, eu estava voltando do trabalho, devia ser umas onze da noite, o ponto do ônibus era num lugar sombrio atrás da prefeitura, eu desci a rua e percebi que três rapazes me seguiam, eu pedi pra Deus me proteger, pois eu não tinha dinheiro e estava de saia. Parei no meu ponto e eles pararam no ponto de cima. Do outro lado da rua tinha um carro e três meninas se dirigiam a ele, quando os rapazes resolveram me atacar, um deles então, chamou a atenção dos demais e eles desistiram de mim e foram apontando as armas na direção das meninas, eu saí correndo chorando, fiquei desesperada, chorei muito, o coitado do motorista não entendia o que eu tentava falar pra ele. Nós combinamos de ele me pegar na porta do hotel, uma vez que eu era a única passageira do horário.

Sanduíche de Lombo

The special

Saíamos toda semana, eu, Ju e Sil para entregar curriculum. Fomos em todos os hotéis que conhecíamos, mas nos faltava experiência, quando não só isso, faltava o inglês também, pois só o intensivo que fizemos não adiantou.

Minha mãe viu um anuncio no jornal que ocupava meia folha, era um anuncio da Transamérica Flats, eles iam inaugurar vários Flats e estavam contratando um monte de gente pra todas as áreas. E lá fomos nós. A fila estava imensa, quando chegou a nossa vez de preencher o formulário eu pensei: “Pra recepção não dá por conta da experiência e do inglês, estou me formando técnica em hotelaria, portanto camareira está fora de cogitação, vou optar por telefonista”. No campo pretensão salarial eu coloquei quinhentos reais. Formulários preenchidos nós comentamos uma com a outra sobre o que havíamos colocado nas fichas e elas acharam muita pretensão a minha de querer telefonia, as duas colocaram camareira e quando elas viram a minha pretensão salarial, então disseram: “Você não vai conseguir!”. Eu respondi: “Sou formada em hotelaria, se eu não me valorizar, empresa nenhuma vai!”. Por fim, só eu fui chamada para a segunda etapa que era a entrevista com o Gerente do Flat designado.

Eu acordei cedo, me arrumei e nem tomei café da manhã de tão nervosa que eu estava. Atravessei a cidade até chegar em Moema. Cheguei quase uma hora antes, então resolvi comer um pão de queijo na padaria Juriti, eles colocaram o polvilho doce numa vasilha, ferveram o óleo e o leite e colocaram aos poucos no polvilho misturando sempre, depois de quase fria a mistura eles colocaram os ovos e o queijo meia-cura ralado e sovaram a massa, bolearam os pães e assaram em forno pré-aquecido. Comi o pão de queijo e tomei um pingado. No caminho da padaria até o Flat me deu um baita revertério, parei na farmácia da esquina e perguntei: “Vocês tem um banheiro, por favor?”. Eles me indicaram a direção e foi o tempo de abaixar a calça... Quando eu me virei pra dar descarga, o vaso estava fechado, ou seja, sujei a tampa da privada! Levei um tempo até conseguir limpar tudo, e cheguei dez minutos atrasada na entrevista.

O gerente José do Carmo foi um amor comigo me tratou muito bem fiquei muito a vontade, ri bastante, exibi meus lindos dentes, e antes de eu sair ele disse: “é você, vou entrevistar as outras, mas já fiz minha escolha!”. Foi ai que eu sorri mesmo. Então eu tive a péssima ideia de ir até o banheiro e quando olhei meus dentes, tinha um pedaço enorme de pão de queijo bem na frente. Eu cheguei em casa aos prantos. Levou duas semanas pra eles me ligarem e eu comecei a trabalhar.

Foi um lugar muito gostoso de trabalhar, foram quase dois anos, fiz amigos, descobri que não podemos confiar de mais em colegas de trabalho, pratiquei meu inglês, vi gente famosa, fui gentil com hóspedes que retribuíram a gentileza com presentes e gorjetas. Mas, eu precisava sair de lá, pois minha mãe mudara pra Campinas, eu estava de favor na casa da Juçara e eu precisava do dinheiro da rescisão pra ajudar na reforma da casa. O gerente foi muito legal comigo me demitindo e eu fui pra Campinas.

Pão de queijo

Amor animal

O Dimi e a Bisa foram os nossos primeiros bichinhos de estimação a tia Mena que os trouxe para nós, dois gatos lindos. Eles mudaram conosco do Rio para Americana. O Dimi era rajado de cinza, branco e preto, tinha as patas brancas e a ponta do rabo também. Ele era o meu despertador, pois todos os dias ele chegava da farra exatamente as seis e meia da manhã. Miava na janela da sala, eu abria a porta ele entrava miando e correndo pra cozinha, eu ia atrás, colocava o leite para ele, detalhe: tinha que ser leite morno, porque frio ele mordia a minha canela! Eu voltava pra cama e ele vinha junto, ligava o motorzinho dele, ficava me afofando com as patas e depois se esparramava em cima de mim, ia me empurrando aos poucos até eu cair da cama.
A Bisa era uma gata anã, rajada de amarelo, branco e preto, era gulosa que só, adorava gelatina de uva e soltava cada pum fedido!

Meu primo achou uma cachorra na rua e levou em casa, nós a chamamos de Teca, a cachorra da minha amiga teve cria e eu peguei o Au-au. A Teca era amarela com as costas preta e bem peluda, o Au-au era todo preto, uma tranqueira, tomava cerveja como se fosse água!

A Bisa foi envenenada, teve uma morte triste, não gosto de lembrar, o Au-au era filhote e eu vi uma lágrima escorrer dos seus olhos. Na mudança para São Paulo, eu muito burra, abri a gaiola do Dimi para lhe fazer um afago e ele pirulitou-se. Voltamos por várias vezes em Americana para tentar encontrá-lo, mas nunca mais vi meu amigo Dimi.

Da Vila Prudente em São Paulo, fomos para o Tatuapé, morávamos numa casa enfestada de ratos, uma furada!
A Teca e o Au-au foram dois heróis, pois matavam uns dez por noite. Que fase difícil!
Não achávamos casa para alugar e precisávamos mudar com urgência, por conta da praga instalada. Achamos apenas um assobradado, onde não tinha espaço para os nossos bichinhos, então os levamos para Campinas, a Bete ex-mulher o meu tio estava morando na casa da minha avó, minha saudosa vó Maria deixou a casa para minha mãe, mas até então não precisávamos dela, então minha mãe deixou a Bete ficar lá em troca de cuidar dos cachorros. Lembro-me da carinha deles de tristeza, eles não entendiam o que estava acontecendo, eles só queriam continuar conosco... Mas, não podíamos, mais!

No assobradado ficou impossível continuar morando, porque abriram um Barzinho de Playboy no lugar do mercadinho que funcionava em baixo de casa. Eu acordava quatro e meia da manhã, saia pra trabalhar, emendava no inglês e depois no curso de hotelaria, chegava em casa as onze e meia, meia noite e só conseguia dormir as duas da manhã, por causa do barulho. Eu passava a noite planejando um massacre, eu pensei em bombardear o bar, em metralhar todo mundo, em colocar veneno na comida servida lá, não dava mais! Então, mudamos para um apartamento na quadra de cima. Mas, o aluguel era um absurdo e pra completar a Bete deixou os cachorros fugirem, então minha mãe falou pra ela desocupar a casa e fomos para Campinas.

Meu chefe o Ed me deu um cachorro era um Labrador tabajara, eu o chamei de Frederico, ele foi o companheiro da minha mãe nos dois primeiros meses de Campinas, pois eu ainda tive que ficar um tempo a mais no hotel que trabalhava, nessa fase eu morei com a Juçara. Minha mãe deu um baita ralo em Campinas, pois a casa estava num estado deplorável, o muro estava pintado de preto e todo pixado, a casa estava pixada, o banheiro todo quebrado. A gente não tinha dinheiro pra reforma, pedreiro e tudo mais, então muita coisa minha mãe fez sozinha. Ela preparava angu com água temperada, fubá e frango desfiado para ela e o Fred comer, eles comeram muito isso e as vezes, só isso. Contratamos um pedreiro que fez o telhado e o banheiro. Um ano depois, tudo pago pro cretino, ele ligou bêbado em casa dizendo que se não depositássemos mil reais na conta dele ele viria em casa pra pegar nossos pertences. Minha mãe disse: “Vem, vem que a polícia estará aqui pra te pegar, vagabundo!”. Ele nunca mais ligou.

O Frederico era a nossa alegria, ele aprontava muito, pegava meia, calcinha, sutiã, o que desse sopa, e enterrava no quintal. Uma vez fomos no mercado, era umas dez da noite quando voltamos, a porta da cozinha estava aberta, entramos com cuidado, pensamos que alguém tinha entrado em casa, matado o Fred roubado tudo e fugido, quando chegamos na sala o danado estava deitado no sofá de barriga pra cima, ascendemos às luzes e o pacote de cinco quilos de ração estava caído e pela metade. Foram quatro dias massageando a barriga do Fred até ele conseguir defecar tudo!
Infelizmente o Frederico pegou Cinomose e tivemos que sacrificá-lo. Ele estava cego e tendo muitas convulsões, um dia ele estava deitado no chão da cozinha, eu deitei do lado dele e perguntei: “Meu amor o que você quer que façamos?”. Olhei para a imagem da Desatadora dos nós e o vi voando junto com os anjos... Hoje esta é a morada dele.

Um tempo depois uma cachorrinha seguiu minha mãe por alguns dias, então minha mãe resolveu colocá-la pra dentro. A Bia é nosso xodó, chegou aqui, magra, triste, doentinha, amedrontada, esfomeada... Hoje é uma paxá, gorda, preguiçosa e descarada!

Angú

Almas irmãs

Minha amizade com a Ju e a Sil ficou mais forte porque já começou numa fase não boa para nenhuma de nós.

A Ju tinha terminado um namoro um tanto quanto complexo, pois o cara era muito ciumento e possessivo. Ela, como sempre, engatou num outro namoro igualmente complexo, o cara era gogoboy e ele a traiu com uma garota feia, o que arrasa a alto estima de qualquer pessoa, pois não basta só trair, tem que ser com uma feia?!

A Sil estava passando pela fase mais difícil da vida dela, e da vida de qualquer pessoa que tem amor pela mãe. Ela viu a mãe adoecer e falecer.

Eu tinha terminado o namoro e meus pais estavam se separando, dois fatos que igualmente não são fáceis. E pra piorar a minha situação, eu e minha mãe saíamos quase todos os dias de baixo de sol e chuva, andávamos feito duas camelas a procura de casa com aluguel mais em conta, pois o nosso dinheiro estava indo todo com aluguel, mal sobrava pra comida.
Numa dessas andanças, nós estávamos exaustas e avistamos um lugar, lindo, aconchegante, chamava-se Aldeia dos Ventos, vendia artigos esotéricos, sucos naturais, tinha cursos de dança de salão, dança do ventre, banho de ofurô e massagens. Pedimos um suco de abacaxi com hortelã e sentamos no jardim de inverno. A atendente colheu a hortelã, cortou o abacaxi, bateu tudo junto no liquidificador com bastante gelo e um pouco de açúcar. Nós tomamos aquele suco refrescante, e o som da cascata unido ao som dos sinos de vento e do mantra que tocava ao fundo, nos trouxe a paz, esquecemos todos os problemas e deixamos a alegria tomar conta do lugar onde estava a tristeza, ali nos encontramos com Deus, saímos de lá com a certeza de que tudo se resolveria.

Eu e as meninas saíamos muito pra beber e dançar, como eu morava no Tatuapé, bairro do fervo da Zona Leste de Sampa, elas iam pra minha casa e passavam os fins de semana lá comigo. E uma apoiou a outra, rimos e choramos muito juntas e é assim até hoje, somos almas irmãs, nos amamos tal como somos, com nossas qualidades e defeitos, nos respeitamos somos mais que irmãs, mais que amigas, somos um só coração.

Suco de abacaxi com hortelã

Monday 25 January 2010

Hotelaria, alegria e mistério!

Comecei a fazer um curso técnico de Hotelaria, optei por esse curso depois que fui no Hotel Renaissance com o meu pai e vi aquelas lindas garçonetes, bem vestidas e maquiadas, conversando em Inglês, francês e até alemão com os hóspedes. Naquele momento pensei é isso que quero ser... Hoteleira!

No primeiro dia de aula, colei na Juçara, mas ficamos amigas de fato depois do blackout que teve na cidade, saímos juntas pela praça da Sé, três baratas tontas eu, Juçara e Silvânia, passamos um baita medo, rachamos o táxi e chegamos salvas em nossas casas.

Logo a turma reduziu de vinte e seis para seis alunos, eu, a Ju, a Sil, a Vanessa, o Ricardo e a Andréia. Íamos quase todas as sextas para o Bexiga, comer pizza e curtir um Rock.

Fazíamos visitas técnicas em vários hotéis e flats. Uma vez fomos visitar o Hotel Renaissance. Simplesmente o melhor e mais belo Hotel que já visitei, o bastidor do hotel é tão chique quanto a área social.
A gerente de reservas que nos recebeu, ela falou sobre a Costa do Sauípe. Eu logo lembrei que minha irmã tinha comentado comigo sobre a construção de resorts na Costa, então eu disse: “Ah! Eu li na veja, é o Cancun Brasileiro". A mulher gostou de mim e até me chamou pra trabalhar com ela, ela disse: “Venha trabalhar comigo. Você já fala inglês, tem outro idioma?”. Eu respondi: “Ainda não falo nem o inglês”. Ela falou: “Que pena, pois gostei muito de você!”. Saí de lá e já me inscrevi no intensivo de inglês.

Nessa fase eu trabalhava de assistente de cirurgião dentista, um dia fiquei até mais tarde preparando a sala pra cirurgia que teria logo cedo no dia seguinte.
Apenas eu e o doutor Flavio estávamos no consultório, quando eu terminei meu trabalho eu me despedi do doutor e fui ao banheiro, um pouco antes de eu entrar no banheiro vi um homem alto, branco, de cabelos pretos esterilizando material, entrei no banheiro e pensei “Mas, todos já se foram!” e voltei pra ver quem era, não havia ninguém lá. Usei o banheiro e fui embora.
No dia seguinte a Joelma, recepcionista do consultório preparou Palha Italiana, ela fez brigadeiro com leite condensado, manteiga e Nescau, depois de pronto e quase frio ela adicionou biscoito maisena picado e mexeu até incorporar o biscoito ao brigadeiro, abriu na forma e cortou em cubos, passou no açúcar, colocou na vasilha e levou para nós. Então, contei pra ela sobre o ocorrido na noite anterior e ela disse que também já o tinha visto, falou para eu não me preocupar, porque ele era o marido da doutora Laudice (dona do consultório) que havia falecido há dois anos, mas era um espírito de luz! Mesmo assim eu não quis mais trabalhar lá e pedi as contas.
Fiz uns trabalhos extras com a minha irmã Dani, trabalhávamos com animação infantil. Teve uma festa que primeiro entramos como palhaças, depois como Teletubes e depois voltávamos como palhaças. Quando voltamos como palhaças a aniversáriante veio toda encantada nos dizer: "Palhaças, palhaças vocês não sabem quem esteve aqui enquanto vocês foram ao banheiro? Os Teletubes, e eles foram embora numa nave espacial!". Isso porque nós falamos para a criançada que nossa nave estava na cobertura do prédio, pois o nosso camarim era o apartamento da aniversariante e tínhamos que subir de elevador, elas tentaram subir conosco mas a Edinéia, dona da empresa de animação não permitiu.

Comecei meu estágio no Best Western porto do Sol, passei por todas as áreas e a que fez meus olhos brilhar, foi a cozinha. Eu botava a mão na massa mesmo, fiz questão de praticar ao máximo, o que chamou a atenção do chefe de cozinha, eu virei a queridinha dele.

Conclui o curso, tendo pagado apenas a primeira mensalidade. Por estar em débito eu não podia ver as notas, era uma saia justa danada quando a galera me chamava pra ver as notas... Então, a coordenadora do curso me chamou na sala dela e disse: "Você foi a melhor aluna do curso, meus parabéns! Esqueça a dívida, seu curso ficou como bolsa!". Eu fiquei tão feliz.

Palha Italiana

Primeiro Namorado

A Deborah e eu fomos ao Terraço (uma danceteria que tinha na Vila Formosa). Lá conhecemos dois garotos o Dennis e o Valmir. A Dé ficou com o Valmir e eu fiquei com o Dennis. Ele era Grandalhão, parecia um gorila, depois de umas três vezes que saímos, começamos a namorar.

Fui na casa dele para almoçar, a mãe dele tinha feito Puchero ela Deixou o grão-de-bico de molho de um dia para o outro. No dia seguinte, cozinhou em panela de pressão por 30 minutos. Aqueceu o óleo em uma panela e fritou a cebola até dourar. Acrescentou, aos poucos, a carne, o toucinho, o paio, a lingüiça e o tomate. Deixou refogar por alguns minutos. Juntou a cenoura e deixou cozinhar, acrescentando água fervente, se necessário. Quando a carne estava cozida, juntou o grão-de-bico escorrido e cozinhou por mais 15 minutos. Polvilhou salsinha picada e serviu.

Depois de seis meses de namoro resolvi que era hora de dar um passo à diante na relação, então falei pra minha mãe: “Mãe, vou fazer dezoito anos, namoro há seis meses e eu acredito que está na hora de dar um passo a diante na relação, me ajuda?”, ela me levou na Ginecologista e as duas resolveram me dar aulas de sedução e educação sexual, de lá fomos numa loja de langerie, escolhemos um modelito, eu comecei a tomar pílula e alguns dias depois, chegou a grande noite.
O Dennis chegou sentou no sofá e quando eu entrei na sala de mãos dadas com a minha mãe, estava sentado num sofá meu pai, vermelho de raiva, a Dé estava ao lado dele rindo de orelha a orelha, a Dani estava no outro sofá, sentada ao lado do Dennis, os dois estavam sérios, o Dennis com a cabeça baixa. Parecia que eu ia para um abatedouro... Não deixou de ser mais ou menos isso! Rs.

O Dennis e eu saímos e no dia seguinte, às duas horas da tarde ele me deixou em casa. Ele recusou-se a entrar comigo. Em casa, ninguém falou nada.
Um tempo depois, quando já tinha virado festa, pois eu passava noites e mais noites com o meu namorado, resolvi perguntar: “Por que ninguém falou nada?”. A Dé logo respondeu: “A mamãe proibiu, disse que matava a gente se falássemos alguma coisa!”.

O namoro durou quase três anos, tivemos bons momentos juntos, ele era atencioso comigo e com minha mãe, cuidava de mim e dela também, ele fazia escova no meu cabelo e minhas unhas também. Ele levava minha mãe ao médico, trocava lâmpda queimada, consertava torneira... Mas era um Ogro, grosseiro com meus amigos, parcia um bicho do mato.
Terminamos por três vezes e da última vez eu berrei um monte de verdades para ele e o expulsei de casa, quando ele estava saindo eu literalmente dei-lhe um chutão no traseiro. Meu pai estava atrás da porta com uma peixeira na mão, eu levei um susto quando o vi e perguntei: “O que você está fazendo aqui?”. Ele respondeu: “Ué se ele desse um de macho pra cima de você, eu furava ele!”.

Menos de um mês depois, mudamos de lá para um apartamento no mesmo bairro (Tatuapé) e meus pais se separaram. Eu tive impressão de ver o Dennis várias vezes em frente ao prédio onde eu morava, e por pelo menos umas duas vezes na frente da minha casa em Campinas.

Sete meses depois do término do namoro, fui no Mistura Brasileira com minha amiga Vanessa e adivinha quem estava lá? O Reinaldo, não deu outra, fiquei com ele de novo!

Quase quatro anos depois o Dennis achou meu e-mail e mandou um recado dizendo que me amava e que estava construindo uma casa pra nós. Minha mãe atasanou-me a vida até que respondi dizendo que não tinha mais nada a ver, no mesmo dia ele respondeu-me dizendo que havia encontrado o amor da vida dele. Um tempo depois eles se casaram e estão felizes, Amém!

Puchero

Vila Prudente

Na rua onde eu morava, moravam muitos outros jovens. No verão todos saíam de casa, ficávamos na rua brincando, conversando e aprontando!
Uma vez eu e minhas irmãs ensaiamos um teatrinho com a galera e apresentamos para os pais na casa do Bi, fizemos vaquinha e montamos uma mesa de queijos, tábua de frios e vinhos e fizemos a comemoração em grande estilo.
O Bi era uma gracinha, um amor de rapaz, muito atencioso comigo, mas no dia da apresentação, ele veio me dizer oi, eu retribuí com um tapa na cara dele, por que eu fiz isso? Não sei! Coitado! Ele ficou muito sentido e nunca mais falou comigo.

Nós meninas, enchíamos com água mini balões e quando os meninos desciam a ladeira com patins, a gente jogava as bexigas neles.

O chu um garoto lindo que vivia andando de patins, dizia que era meu namorado, eu tinha raiva dele porque achava que era zoeira com a minha cara, afinal como um Deus grego daqueles ia se interessar por uma patinha feiosa como eu? Uma vez, estava muito quente e eu peguei a mangueira e fiquei jogando água em todo mundo. O Chu me pegou no colo e me levou no beco, o Bi também estava com a mangueira ligada e eles me deram um banho, eu escorreguei dos braços do Chu e caí de bunda no chão, fiquei P da vida, saí xingando eles.

No aniversário do Chu eu preparei uma surpresa, comprei dois Lakas, eu ia fazer como no comercial, ia comer um na frente dele, depois eu o chamaria e diria: “Comprei um laka pra você!”, ele ia pensar que eu lhe daria um beijo, então eu pegaria o outro Laka e daria pra ele. Mas, meu plano não deu certo, eu fiquei esperando e fiquei nervosa, comi os dois chocolates. Eu já estava deitada quando ele tocara a campainha, desci e falei pra ele: “Eu tinha comprado Laka pra você, mas você não veio, então eu comi!”. Ele logo respondeu: “Agora eu quero!”. Eu disse: “Não dá mais!”. Ele exclamou: “Ah dá!” E me beijou, só que ele colocou a língua na minha boca, eu me assustei, afinal eu tinha quatorze anos e era uma BVL, e mordi a língua do pobre, saí correndo... Que vergonha! A minha sorte foi que exatamente no dia seguinte o Chu se mudou para Catanduva, porque se não eu nunca mais sairia do meu quarto!
Mesa de vinhos, queijos e tábua de frios


Van

A Vanessa é minha amada amiga, são treze anos de amizade pra valer, temos muita história juntas, eu precisaria de dois blogs pra escrever sobre tudo. Mas, o que ficou marcado foi o mau casamento dela, os garotos que ficamos, as gozações que fazíamos com as caras dos outros e o Bolo de brigadeiro.

Eu ia à casa da Van comer bolo de brigadeiro, ela fazia a massa de caixinha, comprava Moça fiesta de brigadeiro e granulado, assava a massa e montava o bolo. No dia seguinte eu fazia o bolo, com mais capricho, é claro! Eu juntava as farinhas (Farinha de trigo, açúcar, Nescau e fermento) acrescentava os ovos ligeiramente batidos, um terço de xícara de óleo e água fervente, untava e enfarinhava a forma, colocava a massa e levava ao forno pré-aquecido, depois de assado eu cortava o bolo ao meio molhava com calda de rum, recheava com brigadeiro que eu fazia com Nescau, leite condensado e manteiga, depois cobria com brigadeiro que eu adicionava um pouco de leite pra ficar menos consistente, ideal para cobertura, polvilhava o granulado, e estava pronto. Eu ligava pra Van e ela vinha comer o bolo que eu fazia pra nós duas. E assim era nossa amizade um dia na casa de uma outro dia na casa da outra, sempre cozinhando e comendo.

Na escola ninguém escapava dos nossos comentários, as vezes um tanto quanto maldosos. Tinha uma menina que sofreu nas nossas mãos. Um dia ela estava falando para as outras: "O meu namorado fica comigo até as dez, depois sai com os amigos dele!". Eu não me contive, peguei o caderno dela que tinha a foto do namorado estampada na capa, levantei e gritei pra Van que estava no fundo da sala: "Van olha o garoto que eu fico todas as noites depois que ele sai da casa da trouxa da namorada!". Coitada! Ela levou a sério porque começou a chifrar o pobre com Deus e o mundo!
No fim do ano uma das professoras deu um colar para cada um da sala e a mesma menina chegou para uma outra professora e disse: "Olha o colar que a Próf me deu!". Então, eu falei: "Ela devia ter te dado uma corda!" Todos olharam pra mim, e eu finalizei: "Pra você se enforcar!". Todos racharam de rir. Porque a verdade é que ninguém a suportava, mas só eu falava.

A Van e eu éramos safadinhas, não tinha uma vez que saíssemos que não ficássemos com algum garoto. Uma vez fomos no “Projeto Radial”, uma danceteria que tinha no bairro onde eu estava morando o Tatuapé, que só dava negão era um lugar escuro que a gente só enxergava alguém se a pessoa sorrisse e se tivesse dente!
Um cara, gatinho ficou olhando pra mim, eu disse pra Van: “Oba vou ficar com um pitel!”. Quando ele se aproximou e abriu a boca, eu não acreditei, o cara não tinha os dentes da frente, ele disse: “Que tal eu, você e sua amiga no matinho ali atrás?”. Eu falei: “Faltou o meu namorado na sua lista!”. Puxei a Van e fui para o outro lado do salão.
Dois garotos nos tiram pra dançar, e como no escuro todo o gato é pardo! Ficamos com os meninos. Quando o baile acabou que acenderam as luzes, Jesus! Eu e aVan ficamos sem saber o que fazer, pois os dois eram gêmeos e muito feios, um deles falou: “Ondié que ces mora?”. Eu respondi, assustada, decepcionada, envergonhada em voz baixa: “Longe! E vocês?”. O outro respondeu: “Nois é de Mauá!”. Eu e a Van demos um perdido nos caras e fomos embora.

Anderson é o nome do traste, todo mundo falava pra Van: “Não casa, ele é um traste!”, Mas, ela insistiu na besteira. Uns dias antes do casamento eu fui a casa dela, disse que se ela quisesse eu a raptava, mas não adiantou, então eu falei: “Se quer ter a minha amizade pra sempre, não tenha filhos com ele!”. E por amizade, ela não teve! Como o previsto, o casamento não durou um ano. O folgado ficava em casa, sentado no sofá, tomando cerveja e assistindo TV. Minha amiga trabalhava fora, chegava em casa tinha que arrumar tudo porque o vagabundo não fazia nada e tinha que contar com o pai dela pra pagar as contas. Ela enjoou de brincar de casinha e caiu fora! Amém!
Bolo de chocolate com brigadeiro

Magia

Por três anos a Ale foi a minha melhor amiga, queria me achar era só procurar por ela e vice-versa. Tivemos vários momentos memoráveis, os que eu não esquecerei são o porre que ela tomou de Whisky, o ritual de bruxaria e a viagem astral.

Meus pais foram pra Campinas e a Ale dormiu em casa, eu fui pra cozinha preparar o almoço, numa panela eu fervi a água com ervas e sal, depois coloquei o espaguete e mexi bem para deixá-lo bem solto. Piquei alho e cebola, dourei no óleo, adicionei a carne moída e com um garfo fui desmanchando os gruminho, quando a carne já estava por completo oxidada eu coloquei sal e pimenta do reino em seguida o molho de tomate, depois que levantou fervura adicionei meia caixa de creme de leite, misturei bem, escorri o macarrão, montei os pratos. Quando eu cheguei na sala a Ale tinha tomado meia garrafa do Whisky do meu pai e estava delirando no sofá, eu fique desesperada, liguei em Campinas e minha mãe me disse: “Se vira!”, então chamei a vizinha que é evangélica, ela chegou com uma Bíblia a tira colo e começou a orar com a mão na cabeça da Alessandra, ela dizia que o encardido tinha entrado no corpo da Ale, a Ale começou a engatinhar até a garagem, dizia que estava se afogando, então eu liguei a mangueira, dei um banho nela de água gelada, fiz um café bem forte e amargo e a fiz tomar e o tal encardido que nada mais era efeito de álcool no sangue foi embora!

Num dia 31 de outubro eu e a Ale tivemos a idéia de fazer o ritual de bruxaria que tinha descrito no livro “O poder das bruxas” da minha mãe. Então, eu peguei um sobretudo preto que minha mãe tinha, um punhal, sal grosso, álcool, fósforo, o livro e suco de uva (na falta de vinho...), disse pra minha mãe que ia ter uma festa na casa de uma outra amiga nossa. A Ale fez o mesmo com a mãe dela, e onze e meia da noite fomos fazer o Ritual.
O único lugar que encontramos foi à praça do crematório da Vila Alpina. Afastamos a macumba, fizemos o circulo de sal grosso, acendemos a fogueira e a meia noite nós iniciamos o Ritual. Primeiro passou um carro com uma mulher dentro, depois de um tempo o mesmo carro passou cheio de gente dentro, um senhor passou e de repente sumiu e na hora da meditação um carro parou a Ale disse: “Parou um carro”.Eu respondi: “E daí?”. Ela falou: “Ele tá tirando a blusa”.Eu respondi: “Vai ver que ele vai dar um trato na namorada”.Ela disse: “Mas ele ta sozinho”.Eu falei: “Ale, é obvio que ela está abaixada!”, então a Ale disse apavorada: “Ele está mostrando a calça!” E foi se levantando, eu levantei também, ela queria sair correndo, eu disse: “Me dá as mãos e vamos dar risada de bruxa.”, começamos a rir de maneira estridente, ele abriu a porta do carro, eu peguei o álcool, o escondi no sobretudo e joguei na fogueira, que levantou as chamas, eu e a Ale começamos a rir mais alto. O cara entrou no carro e saiu cantando pneu. Nós resolvemos encerrar o Ritual e ir embora. No caminho, comentando o ocorrido, um cachorro começou a latir a Ale disse: “Cala a boca!” O cachorro parou de latir, quando terminamos a conversa ela disse: “Pode latir de novo!” E ele voltou a latir. Nossa! Rimos muito.

Pouco tempo depois do Ritual, a Ale estava dormindo em casa. Eu acordei, olhei no relógio era uma e meia da manhã. A Ale acordou também e eu disse pra ela: “Quero comer bolo de geladeira!” Ela respondeu: “Eu quero bolo de chocolate com brigadeiro!”. Descemos para a cozinha eu peguei bolo de geladeira para mim e cortei uma fatia para ela, quando eu coloquei no prato o bolo se transformou em bolo de brigadeiro. Nós comemos, e decidimos ir para o Ibirapuera aonde íamos freqüentemente andar de bicicleta. Demos as mãos e saímos voando, voamos por cima do parque por um bom tempo, até que olhei pra ela e disse: “Temos que voltar!” Então voltamos, quando cheguei no quarto vi alguém deitado na minha cama, estranhei, mas estava cansada e deitei assim mesmo, foi eu deitar que o relógio despertou, eu e a Ale demos um pulo das camas, olhamos uma para outra e caímos na risada, pois tínhamos feito uma viagem astral!

Espaguete ao molho bolonhesa

Clemente

Na primeira semana de aula, devia ser no terceiro ou quarto dia, eu entrei na sala e a galera estava jogando giz um no outro, então eu disse: “Se cair giz em mim eu desço na diretoria!”. Foi eu sentar que um giz parou certeiro na minha testa. Eu levantei no mesmo instante e sai da sala, desci a escada, contei até dez e voltei, todos estavam sentados em silêncio, então comecei a rir deles, apontei o dedo e disse: “Otários!”. Ai uma menina chamada Fernanda Ferrarezi falou: “Essa menina parece a Pops, Vou contar tudo pra sua mãe!”. Então eles começaram a me chamar de Pops carioca, por causa do sotaque.

A turma era muito unida, íamos ao Mc Donald’s e alugávamos chácara no interior pra passar o dia. A Ale diz que a turma não gostava de mim, mas eu tenho certeza de que era exatamente o contrário, até porque os convites vinham a mim antes de chegarem nela.

Para o meu aniversário de quinze anos convidei todos da classe menos a Carla, eu não gostava dela e vice-versa. Os meus amigos Douglas, Márcio, Guarnieiro e Chimas me chamaram a atenção e eu fui forçada a convidá-la, eu falei: “Eu não gosto de você e sei que não gosta de mim, mas se quiser ir ao meu aniversário, comida não faltará!”. E não é que ela foi!

O Júlio Cesar era meu amigo mais chegado, não saía de casa, ele é Gaúcho por isso o apelido Chimas, eu e só eu o chamava de “De Ti”, porque tudo ele falava “isso é de ti?”. Eu achava uma graça o jeitão dele.
Um dia, estávamos eu, o De ti, o Márcio, o Guarni e o Douglas, na rua de casa comendo bolinhos da roça que minha mãe faz com polvilho azedo, água fervente, parmesão, óleo ovo e sal, ela sova a massa, dá o formato dos bolinhos e os frita em imersão, e conversando, eu contei pra eles sobre os teatrinhos que eu escrevia, ensaiava com minha amiguinhas e apresentava no salão de festas do condomínio onde eu morava, e eles gostaram da ideia e resolvemos escrever uma peça para ensaiar com a turma e apresentar no fim do ano no teatro da escola. Como estava passando na TV a novela “O beijo do Vampiro”, nós pensamos em escrever uma peça sobre vampiros, eu falei: “Pode ser voltado para comédia, tipo o vampiro que perde os dentes!”, O Márcio completou: “Boa, O Vampiro Banguela!”. E esse foi o nome da peça. Reunimos a turma e começamos a ensaiar, o Guarni era o protagonista e eu sua esposa, ficou muito boa, apresentamos pra todas as turmas da escola.

Receita de família! Bolinhos da roça

Sunday 24 January 2010

Sampa

Mudamos para Vila Prudente em São Paulo. Morávamos numa casa bonita, com três banheiros, sendo que em um só funcionava o chuveiro, no outro só a privada e no outro só a pia.

Sou tímida, à primeira vista, depois que tomo conhecimento do ambiente e das pessoas, me solto e fico legal. Então quando cheguei na escola. Fiquei quieta no meu canto, me perguntaram de onde eu vinha, respondi: “Americana”, tinha uma menina a Vanessa que desde então pegou birra de mim porque ela pensava: “Diz que é americana e fala tão bem português, é uma mentirosa!”... Anta!

A Alessandra, então colou em mim. No intervalo me mostrou a escola e apontou a galera descrevendo um a um. Até que chegou no Renatinho e no Reinaldo. Os dois viviam juntos, e a partir de então, eu e a Ale também. A Ale paquerava o Renatinho e pedia para eu ficar de olho, pra ver se ele olhava, e nessa me encantei com o Reinaldo.

A Dani era amiga dos dois, que por sua vez, passaram a freqüentar a minha casa.
Um dia eu estava de pijama no meu quarto, quando eu ouvi uma voz chamando pela Dani, olhei na janela e era o Reinaldo. Então, eu corri, coloquei uma mini blusa e um short, escovei os dentes, passei perfume e desci a escada. Só que na metade do caminho, escorreguei e terminei o percurso de bunda. Nem consegui olhar o Reinaldo nos olhos, fiquei tão envergonhada que passei reto nem o cumprimentei.

O Reinaldo passou a freqüentar ainda mais a minha casa, porque ele estava interessado na minha vizinha, uma biscate de marca maior, eu sabia que ela o faria sofrer, e sofria por isso.
Dito e feito ela o decepcionou, ele ficou tão triste, coitado!

Fiz amizade com os amigos dele, porque eu e a Ale íamos à rua onde ele morava só pra espionar e nessa rolou amizade, mas não com eles Renatinho e Reinaldo.

Teve uma quermesse onde eu escrevi um bilhetinho todo apaixonado e entreguei para o mestre de cerimônia, ele leu em voz alta e depois perguntou: “Quem é Reinaldo?”. O Reinaldo levantou a mão. Eu estava comendo uma maçã do amor, feita com a maçã inteira espetada num palito e banhada numa calda de glucose de milho com açúcar e corante comestível vermelho. O locutor perguntou de novo: quem é Pops carioca? Eu saí de mansinho, fui pra casa aos prantos, muito arrependida do que fiz, eu queria morrer ali!

O Dan, irmão do Reinaldo entrou na minha classe e nós ficamos amigos, a Ale havia se mudado para Diadema e eu fiquei amiga da Vanessa, aquela que pensou que eu era Americana!

Um dia no intervalo, tocou na rádio uma música que eu amava, mais ou menos assim: “É o brilho do seu olhar que me leva a loucura, pode ser minha cura pra essa febre de amar...”. Então eu disse: “Não acredito, minha música!”, isso na frente do Dan. Eis que uma semana depois, pouco antes da minha formatura do colegial, o Reinaldo apareceu na minha casa com uma fita, e disse pra minha irmã: “Trouxe pra você!”. Ele foi embora e minha irmã colocou a fita pra tocar, todas as músicas eram da Legião Urbana, exceto a última... Quando começou a tocar a minha música eu sai gritando pela casa: “Ele me ama, ele me ama!”.

Na minha formatura, eu finalmente, depois de quatro anos, fiquei com o Reinaldo!

Maçã do amor

Happy happy

Quando eu fiz treze anos, senti a necessidade de ter meu próprio dinheiro, então comecei a trabalhar numa empresa de decoração e buffet infantil, junto com as minhas irmãs.
Nós fazíamos as decorações, castelos, bonecos, enfeites, tudo de isopor, íamos aos locais das festas mais cedo para decorar e depois voltávamos durante as festas para servir pipoca, mini pizza, hot dog e algodão doce. No fim da festa, com tudo limpo e arrumado recebíamos o pagamento e eu ficava feliz da vida, porque podia ir ao Veteranos (danceteria / Matinê) sem precisar pedir dinheiro pro meu pai.

Por um ano trabalhamos nessa empresa, até que chegou a data do primeiro aniversário da filha da dona da Happy Happy.
Minha mãe fez os ursinhos de pelúcia, costurou um a um. Depois, fez o bolo no formato de um urso, que deu um baita trabalho. Eu e minhas irmãs fizemos o restante da decoração.

A digníssima (dona da empresa) tinha nos convidado e nós estávamos achando que teríamos esse trabalho de organizar tudo para depois gozar da festa, e o fizemos por amizade. Porém, assim que chegamos lá como convidadas, ela veio com três aventais e disse: "Ai, meninas vocês, por favor, fiquem nas barraquinhas (de hot, dog, algodão doce e mini pizza)!". Não entendemos, mas colocamos os aventais e ficamos nas barracas.

Então, me deu vontade de ir ao banheiro, e quando passei pela digníssima, a ouvi se gabando para um convidado de que ela tinha feito tudo, inclusive o bolo... Despautério!
Voltei com sangue nos olhos e contei para as minhas irmãs. Nós até tentamos ficar na nossa, até que um garçom passou pela gente e nós pedimos bebida, e ele nos disse: "Ta eu dou, mas toma rápido, porque a digníssima ordenou que não servíssemos vocês!". Foi a gota d'água, a Deborah foi ao orelhão, colocou duas fichas e ligou pra minha mãe, em cinco minutos minha mãe chegou, nós tiramos os aventais e os jogamos na cara da digníssima, ela tentou colocar o avental a força na Deborah, ai minha mãe partiu pra cima e deu-lhe um tapão na cara, então eu e minhas irmãs começamos a destruir o que fizemos e minha mãe contou tudo para os convidados que ficaram horrorizados e contra a digníssima, o pai da digníssima nos levou em casa, e a festa... acabou! Rsrs.

Já em casa minha mãe pegou ovos, tomates concassê cortados em cubos, salsinha picada, sal e pimenta, bateu com uma colher, levou a frigideira, recheou com presunto e queijo, quatro omeletes e ficamos as quatro, juntinhas na sala assistindo Tela quente, comendo omelete e cascando o bico de rir da situação mega ridícula!

Fritada ou omelete de presunto e queijo

Thursday 21 January 2010

Centro Cívico

Da escola íamos pra casa almoçar e pegar os uniformes e os materiais para levar no Centro Cívico onde fazíamos judô, ginástica olímpica, natação, basquete e atletismo, tudo de graça.

A atividade que eu mais gostava era a ginástica olímpica, uma vez resolvi fazer um mortal sem a ajuda do professor, aliás, o professor nem sonha até hoje que fiz aquilo. Mas, meus planos caíram por terra, porque quando eu já estava no ar, fiquei com medo e estiquei o meu corpo com tudo, minha coluna parecia que ia quebrar no meio e eu cai no tablado, fiquei com uma baita falta de ar, levei um tempo pra me recompor e até hoje minha coluna judia de mim! Até tentei continuar com a ginástica, mas eu sentia muita dor e fiquei com medo também, mas foi um ano muito bom, aprendi muitas coisas... é isso que importa!

No judô eu era péssima. Levava cada surra! Mas, teve um campeonato que minha amada Maria foi assistir e eu finalmente ganhei, fiquei com a medalha de ouro!
É teve um detalhe básico, ... eu... estava numa categoria inferior, por falta de adversários na minha categoria. Mas, isso é um mero detalhe, sem importância.

Na natação eu era pior ainda, não aguentava chegar na metade da piscina. No atletismo, então, prefiro não comentar! Agora no basquete, nesse eu arrasava! Êta baxinha porreta!

A Dani fez aniversário e minha mãe preparou um Bobó de camarão, ela limpou os camarões, lavou em água corrente e os deixou marinando numa vinha d'alho, com as cabeças ela fez o caldo, coou e cozinhou a mandioca nele, depois bateu a mandioca com leite e leite de coco, salteou os camarões no dendê, adicionou o creme de mandioca, tomates concassê cortados em cubos e pimenta dedo de moça picada, depois que levantou fervura ela colocou a salsa picada e serviu com arroz. O Centro Cívico baixou em peso em casa, foi uma farra, mamãe fez dez litros de bobó e quase não deu pra todos.

Bobó de camarão

Novos Ares...

Mudamos para Americana interior de São Paulo, era inverno, meados de Abril, e eu acostumada com o calor de 40º do Rio de Janeiro, virei picolé!
Minha mãe fazia Marshmallow com claras em neve e calda de açúcar feita com água e Karo, a calda era adicionada aos poucos na clara em neve e o creme era batido até esfriar, então, espetávamos um punhado no garfo e na falta da lareira, dourávamos o doce na chama do fogão, que delícia!
Eram três blusas, três calças e três meias, sem contar o gorro, o cachecol e as luvas pra sair de casa, a galera cascava o bico de rir de mim, mas eu nem ligava, pelo menos não passava frio. Logo na minha primeira semana de aula teve uma excursão e eu perguntei pra professora: "Exxxxcurrrrsão pra onde?", daquele jeito bem carioca e todos riram muito de mim. Eu fiquei P da vida e disse: "Vão a merrrrrda seuxxxxs f*&¨%$ da P*&¨@!", e a guerra foi declarada.

A professora Bete de Inglês passou um trabalhinho, que era pra ser em grupo, mas ninguém quis fazer comigo, então fiz sozinha. Peguei uma caixa de papelão e recortei formando um palco com cortina vermelha e tudo, fiz um boneco com uma meia velha do meu pai, usei pedaços de papel pra fazer os olhos, boca e chapéu. Escrevi o texto em inglês e colei na parte de dentro do meu mini teatro e fui apresentar minha peça, a historinha era mais ou menos assim: " Hi, Good afternoon! My name is Mr world, why this name? Because I'm the great creator! I created people, animals, nature, sun, sky, sea and the stars. To all the children who believes me, I pour my blessings and the other, too. Be at peace!", escolhi algo complexo e difícil de propósito, eu quis impressionar, afinal sou touro com ascendente em escorpião, sou da paz, mas não pisa no meu pé, porque viro touro com cauda de escorpião e derrubo todos que se voltam contra mim, simplesmente mostrando a minha superioridade, dedicação e competência. Ensaiei o texto por horas, por isso ainda me lembro, vagamente!
A professora adorou, fez todos aplaudirem de pé e me fez ir de sala em sala apresentar minha peça!

No meu aniversário a mesma professora fez cada um da turma escrever um bilhetinho de congratulações pelo aniversário, quando entrei na sala os bilhetes já estavam na minha mesa e ela pediu pra eu ler em voz alta. O Lucas, um garoto que eu achava bonitinho, mas era um nerd, escreveu: "Paraibana eita coisa boa!", eu li, pior que o tonto assinou o bilhete, eu virei pra ele e disse: "Sou muito boa, mas não sou paraibana, sou PARAENSE, seu burro!", coitado, ele ficou mal, saiu chorando da sala. Nesse mesmo dia, eu fiquei pra limpar a sala, todos os dias um aluno ficava pra limpar e ele veio pra me ajudar, eu pedi desculpa, então ele me encostou na parede e roubou me um beijo, na mesma hora a professora entrou na sala, nossa que vergonha! Peguei raiva do pobre, não podia vê-lo na minha frente.

No fim do ano, pra variar, organizei uma festinha para os professores e eu fiz o meu primeiro bolo de chocolate. Mas, não deu certo, ficou solado, contudo eu tive uma grande ideia! Misturei rum com leite condensado e coloquei na massa que virou uma pasta, enrolei feito docinho, passei no granulado e coloquei nas forminhas. Meu docinho de bolo solado foi um sucesso e finalmente fiz as pazes com a turma.
Marshmallow e docinho de bolo solado ao rum

Wednesday 20 January 2010

Origem do apelido de infância

Um dos integrantes do grupo de quatro homens que faziam palhaçadas na televisão, num passado não tão distante frequentava o bar Funchal que se localizava no lado esquerdo do condomínio onde eu morava, ali, bem do ladinho. Meu pai, também frequentava o Funchal, ele e o palhaço eram colegas e desfilavam no bloco das Piranhas nos carnavais cariocas, um bloco de homens vestidos de mulher. Que graça!

De vez em quando minha mãe ia com meu pai no Funchal e me levava junto, o integrante do grupo de palhaços logo que me via vinha me chamando: "Toquinho, a toco tá aqui! Eu tava nervoso, agora tô trankilis porque a minha toquinho chegou!". Ai ele me pegava no colo e me levava pra cozinha, lá ele preparava lanches pra mim.
Minha mãe ia lá só pra comer bolinho de bacalhau que eles faziam com bacalhau desfiado, batata cozida e amassada, sal, azeite, farinha de trigo, ovos e salsa picada, depois de misturar tudo, eles moldavam os bolinhos com duas colheres uma em cada mão, passando uma na outra com a massa no meio, bolinhos modelados, eram fritos em óleo quente. Os bolinhos eram um sucesso na região. O meu saudoso amigo palhaço queria muito que eu entrasse pra trupe, mas eu não queria, meu sonho era ser Paquita!

Eu treinava as coreografias, sabia as músicas e quando finalmente abriu inscrição para a seleção de meninas, minha mãe não me deixou ir de encontro a fama, o sucesso, o glamour! Ela dizia que o meio artístico é muito sujo, é cobra engolindo cobra e 80% dos famosos não sabem lidar com a fama.

Agora eu te pergunto: que Meio profissional não tem cobra engolindo cobra? Que meio profissional não tem bafão? Quantos chefes você conhece, tem ou já teve que sabe de fato o que é ser líder?

Acho que foi por isso que peguei Sarampo, pois tristeza profunda baixa a imunidade, o que abre as portas para as doenças.

Bolinho de bacalhau

Chocolaaaaaaate!

Minhas irmãs e eu sempre fomos muito unidas, mas isso não impedia que brigássemos. Uma vez, não me lembro o motivo, mas brigamos e nossa de coração a Sofia truxe três caixas de bombom, uma pra cada. Mas, mamãe as escondeu alegando ser um castigo por termos brigado. Acontece que eu as achei...
... Então, um diabinho soprou no meu ouvido: "Abre uma, come um!", ai o anjinho logo apareceu e soprou no outro ouvido: "Não faça isso, você já está de castigo!", o diabinho disse: "Ah, um só não faz diferença!", o Anjinho disse: "Ela vai perceber que a caixa está aberta, você vai ficar mais tempo de castigo!", o diabinho: "Pega rápido um só, esconde a caixa em um outro lugar e depois finge que não sabe de nada, negue até a morte!", o anjinho então se desconcentrou e deu um espirro e nesse exato momento eu abri a caixa e comi um bombom, então, o anjinho se recompoz e berrou no meu ouvido: "Sua louca, porque você fez isso!" então, enquanto ele resmungava eu fiquei nervosa, e quando eu fico nervosa eu como chocolate, quando eu me dei conta eu tinha comido todos os bombons da caixa, o diabinho estava rachando a cara de rir e o anjinho parecia uma gralha falante, então pensei: "é melhor eu comer os bombons das outras caixas, porque se não minha mãe vai dar falta de uma delas".

Detalhe: eu nem pensei na hipótese dela dar falta das três caixas!

Por fim, comi tudo, na verdade eu estava tão nervosa que eu engoli os bombons inteiros! Guardei as caixas no mesmo lugar e sai de fininho.

No dia seguinte, eu já acordei vomitando, minha mãe ficou preocupada porque eu vomitava sem parar, ela colocou um vestido em mim e chamou um táxi, no caminho para o hospital eu vomitei dentro do táxi, então ela tirou o meu vestido para limpar o vômito, ou seja, eu com 11 anos, já uma pré adolescente, estava só de calcinha, no meio da rua. Minha mãe comprou uma camiseta no camelô e fomos para o hospital. A médica queria me internar, ela disse que eu estava com meningite, minha mãe, então, me perguntou: "Filha, você fez algo errado? Quer me contar?", então, eu contei que comi os bombons das três caixas. Eu só não precisei fazer lavagem porque estava vomitando.

A noite meu pai foi nos buscar e fomos no restaurante, como era páscoa, uma das sobremesas era colomba pascal trufada, a trufa foi feita com chocolate meio amargo e ao leite, creme de leite, mel e cognac, todos os ingredientes exceto o cognac foram levados em banho-maria, depois de incorporados, foram retirados do banho-maria e o cognac foi adicionado ao creme de chocolate e misturado vigorosamente até tomar forma de massa, depois de doze horas de descanso na geladeira a trufa estava pronta, a colomba foi cavada na parte superior e a trufa foi colocada por cima, depois a colomba foi decorada com frutas e nozes. Não cheguei nem a provar esta maravilhosa sobremesa, porque no que a vi, tive um baita desarranjo que não deu pra segurar e sujei as calças! Minha mãe ficou muito brava comigo, me levou no banheiro e me limpou, me levou no camelô e comprou uma calcinha e me vestiu ali mesmo.... agora imagine eu uma garota de 11 anos, pré adolescente... meu que micooooo!
Colomba Pascal trufada

Cleide Maria

Minha mãe sempre foi uma grande mulher, quando trabalhava fora de casa era uma verdadeira líder e quando optou pela maternidade se tornou simplesmente a melhor mãe do mundo, ela não só é minha mãe, mãe da Deborah e da Daniela, como é mãe da Sil, da Ju, da Van, da Ester e de muitas outras pessoas que passaram em nossas vidas. Tenho muito ciúme dela, confesso! Mas, não tem jeito, quando alguém precisa de colo, eu tenho que dividir o colo da minha amada mãe, porque ela é referencia de conforto, amor e amizade pra todos que a conhecem.

Cleide Maria Vicente, este é o nome da mulher mais maravilhosa e amiga que já conheci na vida. Lembro que nossa casa era cheia de crianças. Éramos conhecidas como "as meninas", a galera só avisava: "mãe vou na casa das meninas", e as mães já sabiam que seus filhos estariam na nossa casa.
A gente brincava e na hora do lanche minha mãe vinha com um boné, avental, caderneta e caneta na mão, fingindo ser uma garçonete, ela tirava nossos pedidos e preparava os lanches, depois nos servia. Era pão com ovo, hamburguer, hot dog, batata frita e sorvete de sobremesa.

Ela fazia ovos de páscoa pra vender e deixava de propósito três ovos em cima da mesa, ai eu e minhas irmãs pegávamos os ovos e ela fingia não ver, depois falava pra gente: "o coelho da páscoa comeu os ovos", eu e minhas irmãs morriamos de rir disso! Que besteira!

A mamãe acordava muito cedo e se arrumava como se fosse uma executiva com salto alto, saia, meia calça, em fim, preparava um café da manhã de novela, tinha suco, café, leite, chocolate, farinha láctea, banana, pão caseiro que ela mesma fazia, queijo minas, mel, fritada, etc. Então, ela nos arrumava e a gente tomava o café escutando a rádio Globo, ela preparava a lancheira, ao som de: "Como uma deusaaaaa, você me mantemmmm". Na minha merendeira tinha sempre café com leite gelado, e até hoje quando escuto essa música sinto o cheiro da lancheira.

Nós íamos pra escola e ela limpava a casa, deixava brilhando. Quando a gente chegava a casa estava limpa e o almoço na mesa, sempre comida fresca, muito legume, muita verdura e nada de refrigerante.

Minha irmã Dani estudava bastante, a Dé fugia dos livros e eu Dormia, mas tirava dez! Uma vez minha mãe foi chamada na escola porque eu não fazia dever de casa, quando ela chegou na diretoria eu estava em pé na cadeira com o dedo apontado pra cara do diretor, eu dizia: "É muita exploração, vocês darem dever pra fazer em casa, já não basta estudar aqui? Casa é pra descansar e não estudar!", eu devia ter uns 08 anos.

Minha mãe sempre foi uma anfitriã de mão cheia, todos que veem na nossa casa ficam tão a vontade que abrem geladeira, mudam o canal da tv, ligam o rádio e fazem até psiu! Quando querem ouvir algo e não conseguem por conta da conversa paralela!
Uma vez, minha mãe fez carne assada com batatas ela pegou a peça de Lagarto deixou marinando na vinha d'alho por 12 horas, então ela cobriu com papel alumínio e levou ao forno, depois de assada ela colocou as batatas pré cozidas em água temperada com sal e ervas e voltou ao forno pra dourar as batatas. Ela serviria a carne com arroz branco e purê de mandioquinha, porém ela pediu pra Dani: "Filha põe a carne na mesa", e a Dani minutos depois voltou na cozinha dizendo: "Mãe, não deu certo! Entupiu a privada!", quando a minha mãe foi ver, minha irmã tinha jogado a carne na privada! Minha mãe indagou: "Filha por que você fez isso?, a Dani respondeu: "Ué você que mandou."... Vai entender!
Acabou que minha mãe serviu arroz, purê de mandioquinha e ovo frito pro chefe do meu pai, convidado do dia.

Carne assada com batatas

Tuesday 19 January 2010

Sai Baba

Passei a minha infância frequentando o centro de Sai Baba. Sri Sathya Sai Baba é um guru indiano.
Em função de sua proposta educacional centrada nos Valores Humanos universais da verdade, paz, não-violência, amor e retidão, Sathya Sai conduziu a construção de escolas e universidades, atendendo a moças e rapazes desde o jardim da infância até o nível superior.

"A verdadeira finalidade da educação é a formação do caráter." (Sathya Sai).

"Vim para acender a chama do Amor em seus corações, para que ela brilhe dia a dia com mais esplendor.Não vim em benefício de alguma religião em particular.Não vim em nenhuma missão de publicidade para qualquer seita, credo ou causa, nem vim reunir seguidores para nenhuma doutrina.Não tenho planos para atrair discípulos ou devotos ao meu rebanho ou a algum outro rebanho.Vim para falar-lhes desta Fé Unitária Universal, deste Princípio Divino, deste Caminho de Amor, desta Ação de Amor, deste Dever de Amor, desta Obrigação de Amor."
(Sathya Sai Baba)

No Centro meditávamos, fazíamos um circulo de debate, cada semana um assunto diferente sobre política, comportamento social, etc. E depois, vinha a parte boa, o banquete. Comida vegetariana pra dar e vender! Sempre tinha Cozido feito com batata, cenoura, abobrinha, abóbora, repolho, couve-flor, mandioquinha, milho, proteína de soja, salsicha de soja e grão de bico, aqueça o ghi ou o óleo adicione gengibre ralado e alho, adicione os legumes cortados grosseiramente, o curry, cubra com água ajuste o sal e quando levantar fervura, coloque a proteína de soja e a salsicha de soja, quando o garfo espetar com facilidade todos os legumes o cozido estará pronto. O cozido era servido com arroz integral e pirão feito com o caldo do próprio cozido e farinha de mandioca. De sobremesa tinha a tradicionalissima torta de nozes da mamãe, é claro!
A mamãe bate açúcar com manteiga, depois bate os ovos até dobrar o volume e junta com o creme de manteiga e mexe bem, depois ela adiciona a farinha, o fermento e as nozes moídas e mexe bem, se precisar ela coloca um pouco de leite e leva ao forno depois de fria ela prepara a baba de moça com água, açúcar, gemas, vinho madeira e nozes moídas. Esse sem dúvida é o melhor bolo de nozes do mundo!

Um dia, minha mãe acordou com muita dor de cabeça e pediu pra morrer, eu fiquei assustada com aquilo e forrei a cama dela com lençóis brancos, pedi pra ela tomar um banho e vestir a camisola branca, coloquei uma taça com água no criado mudo e falei pra ela deitar. Fui no quintal e no pé da árvore coloquei a imagem de nossa Senhora e uma foto de Sai Baba, peguei o vibuti e espalhei em cima do pequeno altar e pedi com firmeza pra que Sai Baba fosse tirar aquela dor da minha mãe.
Fui pra cozinha e vi pela janela alguém vestido de laranja, com um baita black power, ajoelhado diante do altar, eu sai correndo e disse pra minha mãe: "ele está aqui!". Fechei a porta do quarto e quando eu voltei pra cozinha, ele não estava mais lá. Minha mãe dormiu o dia todo, acordou muito bem e nunca mais teve uma dor de cabeça daquela!