Saturday 6 February 2016

Buscando meu emprego

Ainda nos meus primeiros meses de Irlanda, liguei pro brazuka que estava fazendo sucesso com a feijoada que vendia em sua sala, por cinco euros o prato, (a fila de Brasileiros dobrava o quarteirao), ele disse que trabalhava sozinho, mas que se eu levasse meu curriculum, ele poderia me ajudar a conseguir um trabalho, eu o fiz e poucas semanas mais tarde a churrascaria Argentina estava me chamando prum teste.

Apos um dia de experiancia, na qual eu amei tudo e todos e estava certa de que havia encontrado o meu lugar, o chefe disse que me contactaria em duas semanas, as duas semanas se passaram e eu nao pude esperar, pois o aluguel estava pra vencer, divida pra pagar, galera aterrorizando dizendo que ninguem ficava nos empregos por muito tempo... fui convencida a procurar emprego de au pair, pois poderia salvar todo o meu dinheiro, uma vez que nao pagaria aluguel. Morar na casa dos outros e cuidar de crianca, dos outros, nao era o que eu queria, mas tive que concordar que naquele momento era a minha saida.

 A Babi indicara uma vaga de au pair live in, enquanto eu estava no onibus a caminho da entrevista, eu pensava nas entrevistas que havia feito anteriormente, a primeira foi atraves de um site muito usado por Brasileiros que procuram emprego aqui na Irlanda, a entrevista foi com uma mae solteira, ela tinha um nenem de 10 meses. A oferta dela era a seguinte: casa e comida em troca de olhar o filho dela todos os dias o dia inteiro, inclusive a noite, caso ele acordasse. Porque ela tinha que ter uma boa noite de sono pra aguentar o trabalho no dia seguinte. Folgas aos fins de semana.

A segunda entrevista foi pra outra familia de mae solteira, eram tres meninos (10, 08 e 1 ano). Esta entrevista foi por intermedio de uma amiga que estava num onibus com uma colega e estava a comentar a meu respeito e a dizer minha necessidade de trabalho, urgente. Entao, uma menina a cotucou nos ombros e lhe disse: Estou a sair do meu trabalho, vc acha que sua amiga teria interesse? No mesmo instante a minha amiga me ligou e logo marcamos a  entrevista. Ao chegarmos na casa, a menina com ar de desespero foi logo abrindo a geladeira e muito rapidamente, danou-se a colocar comida na mochila que carregava, subiu de imediato para deixar as coisas no seu quarto e voltou arrumando a casa, que ja estava bem limpa.

A hostess chegou com os filhos e fora passando o dedo nos moveis enquando ordenava que a menina fosse retirar as compras do carro, sem um por favor ou um obrigado. A hostess, entao, disse que pagaria 150 euros por semana para cuidar dos filhos dela, limpar casa, cozinhar e passar roupas. Disse tambem que eu teria que acordar de madrugada quando o nenem acordasse e que eu deveria sair da casa aos fins de semanas, porque seu namorado vinha passer esses dias em casa. Entao, perguntei: mas, voce pagara o hotel pra mim? Ela me chamou de insolente e disse que ja estava remunerando muito bem.

Depois ainda fui a outras duas entrevistas, uma era para uma familia do interior, peguei o onibus e desci no vilarejo, a hostess foi me buscar, e ainda dirigiu por mais 30 minutos em meio a nada para chegar no lugar algum, onde ela Morava. Eram tb tres criancas, o nenem de 2 anos mal me viu e ja disse: eu te amo! Tamanha a carencia dele.

Na cozinha so havia um microondas e uma fritadeira, a casa era terrivelmente grande e suja. A baba corria de um lado para outro tentando organizar as coisas. O marido trabalhava por la, parecia negocios com ferro velho. A hostess costurava vestidos de noiva, a loja dela ficava la mesmo, na propria casa, um trem chique de doer, um vestido mais lindo que o outro, acho que ela deva ser famosa no meio, pois ate heliport tinha no topo da casa.

Enfim, proposta: 150 euros por semana, limpar, cozinhar, passar, cuidar das criancas todos os dias o tempo todo, se eu precisasse sair da casa pra ir ao banco ou qualquer outra coisa a hostess me levaria e buscaria. Quando perguntei se poderia, entao, receber meus amigos, a resposta foi imediata: nao, para nao tirar nossa privacidade.

A penultima entrevista foi para uma familia arabe, esta vaga pertencia a uma mulher que fora se abrigar na casa do irmao da gerente por uns dias, ate a volta dela para o Brasil, na verdade nao fazia duas semanas que ela chegara na Ilha e decidiu voltar, mas havia aceitado esse trabalho e como disistiu, ela o indicou pra mim, entao fomos juntas para a entrevista. A casa era muito suja e fedorenta, apenas um nenem, 150 euros por semana e as regras eram: se trancar no quarto quando o marido estivesse por la, ou sair.

Nessas Alturas todos me julgavam, na Igreja todos me aconselhavam a pegar o primeiro emprego que aparecesse, que eu nao estava em condicoes de escolher, e nao estava mesmo, se eu fosse olhar so para o lado material. Mas, minha resposta era a mesma: Na merda eu ja estou, nao vou me atolar nela.