Wednesday 27 January 2010

Campinas

Mudei pra Campinas e demorei a me adaptar. Na verdade, acho que nunca me adaptei. Consegui um emprego num Hotel no Cambuí, trabalhava de garçonete. Não demorou muito a Maitre começou a mostrar sua verdadeira face, ela é árabe, porca, incompetente e extremamente ignorante. Uma vez um garçom fez o prato dele, pois já passava das três da tarde e o coitado ainda não tinha almoçado, porque ela não o havia liberado. Então, ela foi à direção do rapaz como um foguete, tomou lhe o prato das mãos e o jogou no lixo, e disse: “Eu não te liberei!”. Ele foi com tudo pra socá-la, mas o chefe de cozinha o impediu.

Um dia teve três eventos no hotel ao mesmo tempo, tinham exatamente vinte garçons e ela não sabia o que fazer. Eu entrei pra trabalhar ao meio dia e nada estava feito, mesas, buffets tudo por montar, os hospedes esperando, uma verdadeira confusão. Depois, do caos controlado ela dizia: “Eu não di conta, eu não di conta!”.

De repente ela resolveu implicar comigo, todos os dias ela pegava no meu pé. Emagreci muito na época, cheguei a pesar 37kg. O chefe de cozinha ficava com dó de mim, ele preparava mousse de chocolate com o auxílio de uma peneira ele passava as gemas para retirar a película. Numa vasilha batia bem as gemas até dobrarem de volume, juntava o açúcar e continuava batendo. Derretia o chocolate em banho-maria e acrescentava a gemada. Juntava o creme de leite e por fim as claras batidas em neve, mexendo bem. Depois levava a geladeira até o dia seguinte. Ele separava a taça mais cheia pra mim. Também, fazia lanches e tudo mais que eu tivesse vontade.
Mas, não dei o braço a torcer, ela falava eu retrucava, ela me mandava descer pra diretoria, que me mandava de volta pro salão, e assim ia, por várias vezes, por vários dias. Uma vez ela chamou minha atenção na frente de um cliente, eu o servia café, quando ela falou: “Vá lavar louça que é o que você sabe fazer!”. O cliente ficou indignado, pois eu o havia atendido com perfeição, ele tentou argumentar, mas eu gesticulei que não precisava e fui lavar louça. Enquanto eu lavava, eu cantava: “Senhor põe seus anjos aqui, senhor põe seus anjos aqui. Não deixes que a inimiga escarneça e zombe de mim...” Ela me olhava com ódio e eu fingia não ver e cantava sorrindo.

Quando encerrou o expediente, eu entrei no salão e apontando o dedo na cara dela, eu disse: “Você nunca mais tente me humilhar, porque você está no meu País, e você me deve respeito, se não eu te processo e você será deportada, mas antes disso eu vou a Policia Federal só pra escarrar na sua cara. Só não te dou um tabefe agora porque você está grávida, e te digo mais, segura com unhas e dentes esse seu empreguinho de merda, que nós sabemos muito bem que você só o tem por ser amante do dono do hotel, porque com essa incompetência toda você não sobrevive um dia lá fora”.
Ela não entendia muito bem português e não deve ter entendido metade do que falei, mas eu disse tudo o que estava engasgado há oito meses. Ela só respondeu: “No vo te dar o gostinho de te dimiti. No vo!”. Eu disse: “Ótimo, porque eu adoro trabalhar aqui, a única pessoa que estraga tudo aqui pra mim e pra todos é você!”. E fui embora. Foi ótima essa conversa que tivemos porque não tive mais que aturá-la, eu chegava, ela saia e vice-versa.

Eu comentei com o chefe de fila que não entendia o porque dela ter mudado tanto assim comigo, pois logo no começo ela me tratava bem. Ele disse: “Não me diga que você não sabe? O hotel inteiro sabe!”. Eu respondi: “Não sei, fala!”. Ele falou: “O dono do hotel, espalha aos quatro ventos que um dia ainda vai te pegar!”. E como ela era caso dele e todos ali sabiam disso, tava explicado. A confirmação disso, eu tive no dia em que ele ligou na minha casa dizendo: “Juliána, se arrúma vámo sai com Habib. Eu te compro um tênnis!”. Eu fiquei rosa chiclete, e respondi: “não mesmo!”. Uma semana depois eu fui demitida.

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