Tuesday 19 January 2010

A Fafá

Voltando lá no passado, nem tão distante...
Lembro que tive uma infância pobre materialmente falando, porém rica em brincadeiras, fantasias e amizades. Lembro-me vagamente da minha amiguinha Fafá, da primira vez que fomos ao cinema assistir um dos vários filme dos Trapalhões e ela fez xixi na calça, lembro, também que falávamos muito em morte, eu dizia que morreria antes dela e que voltaria pra puxar seus pés quando estivesse dormindo e ela dizia o mesmo.
Um dia minha mãe fez Canjica. Ela deixou os grãos descansando na água de um dia para o outro e os cozinhou até que ficassem macios, escorreu a água, completou com leite, leite condensado, cravo, canela em pau e duas colheres grandes de açúcar, deixou ferver e serviu para a Fafá e eu. Como eu sempre gostei muito de canjica, fiquei de olho na canjica da Fafá e disse a ela: "Não coma a canjica! Pois, é veneno e você vai morrer! Como eu quero morrer vou comer a minha e a sua". E tomei a canjica dela e comi tudo.
A Fafá foi aos prantos até a minha mãe dizendo: "Ela vai morrer!". Então, levei uma bronca daquelas! Mas, pelo menos comi tudo!
Um dia minha amada amiga disse serenamente: "Eu vou morrer!". E de fato ela veio a falecer algum tempo depois num acidente de carro. E como promessa é dívida ela voltou e puxou meu pé, eu devia ter uns sete ou oito anos e desde então não durmo mais sozinha, se durmo, coloco meia e cubro bem os pés.

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